Título: Repasses para a Ourofino cresceram
Autor: Regina, Alvarez; Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 18/08/2011, O País, p. 3

Desde 2007, empresa de agronegócio recebe média anual de R$22 milhões

SÃO PAULO. O grupo empresarial Ourofino Agronegócio, dono do jatinho usado pelo ex-ministro da Agricultura Wagner Rossi, passou a obter empréstimos milionários do governo federal depois da entrada de Rossi no governo. Dados oficiais mostram que, a partir de 2007, a principal empresa do grupo, a Ourofino Saúde Animal, começou a ter concedidos por um outro ministério, o da Ciência e Tecnologia, financiamentos bem superiores aos autorizados até então. Nos últimos quatro anos, a empresa recebeu uma média anual de R$22 milhões, para investir em projetos de inovação tecnológica, 3.000% mais do que a média dos anos anteriores: R$720 mil.

Só em 2010, o governo federal liberou para a empresa R$38,9 milhões. O valor está entre os maiores financiamentos autorizados naquele ano. Em 2009, foram R$13,6 milhões; em 2008, R$28,4 milhões; e, em 2007, R$7,1 milhões. De 2004 a 2006, as cifras foram bem menores: R$1 milhão, R$648 mil e R$524 mil.

Financiadora é do Ministério da Ciência e Tecnologia

Os empréstimos foram concedidos pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), empresa federal subordinada ao Ministério da Ciência e Tecnologia que financia pesquisas científicas e tecnológicas para empresas, universidades e institutos tecnológicos. O órgão atua nos moldes de um BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) específico para pesquisas científicas e tecnológicas. Os empréstimos podem ser a fundo perdido ou reembolsáveis. Nesses casos, os juros cobrados são bem abaixo dos praticados no mercado. A Ourofino atua no ramo de produtos veterinários, sementes e defensivos agrícolas.

O grupo empresarial ganhou notoriedade no noticiário político nacional esta semana, devido às relações estreitas com Wagner Rossi. Ele e um de seus filhos, o deputado estadual Baleia Rossi (PMDB-SP), admitiram que usaram um jatinho da Ourofino para viagens de Brasília a Ribeirão Preto, reduto eleitoral da família Rossi e onde a Ourofino foi fundada, em 1987. No ano passado, a empresa obteve autorização da pasta de Rossi para comercializar uma vacina contra a febre aftosa, um mercado estratégico para ela. O ministro foi pessoalmente à sede da empresa para anunciar a licença para produção do medicamento.

O ministro negou, em nota, qualquer favorecimento para a Ourofino. Ele explicou que o processo para a liberação da vacina foi iniciado em 2006, antes da nomeação dele para o ministério, e envolveu avaliações técnicas que independem de seus atos. Quanto ao uso do avião, Rossi destacou que foram "raras vezes". Baleia Rossi também disse que viajou apenas algumas vezes.

A área de pesquisa é estratégica para o grupo Ourofino. Os financiamentos são fundamentais para garantir investimentos que permitam obtermaior competitividade. Nos últimos dez anos, somente a Ourofino Saúde Animal viu seu patrimônio ser multiplicado por 15 vezes: de R$5 milhões para R$78,2 milhões.

Em nota ao GLOBO, a empresa justificou o crescimento de financiamentos pela Finep, a partir de 2007, à implementação de novos negócios. "Houve expressiva expansão de estrutura de pesquisa e desenvolvimento, com treinamento de profissionais, aumento de equipes, desenvolvimento de novas linhas de produtos. De lá para cá, o grupo lançou 28 produtos", informa. A empresa explica ainda que foi em 2007 que começou a investir para o desenvolvimento da vacina contra a febre aftosa. A nota conclui: "A Ourofino Participações refuta com veemência toda a e qualquer ilação feita sobre suas operações".

Finep: 98% dos empréstimos são reembolsáveis

A Finep, também em nota, explicou que "a Ourofino, a exemplo de outras empresas, tem demandado recursos da Finep para manter-se na fronteira tecnológica exigida pelo setor". A empresa pública informou que, desde 2004, apoia o grupo empresarial no desenvolvimento de vários projetos, entre eles o que permitiu a pesquisa e produção de vacina contra a febre aftosa "com emprego de tecnologia de ponta e certificação internacional". Segundo o órgão, 98% dos financiamentos concedidos à Ourofino são reembolsáveis, e não a fundo perdido.

O Ministério da Ciência e Tecnologia informou que qualquer esclarecimento seria prestado pela Finep.