Título: Quando o apoio fica caro demais
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 25/08/2009, Política, p. 2

Antes mesmo do fim da ressaca pela absolvição de Sarney, ala petista agora cobra do presidente da legenda postura mais agressiva na relação com o PMDB. Berzoini: costuras com o PMDB nos estados para fortalecer candidatura de Dilma Rousseff

O custo do apoio do PMDB à candidatura à Presidência da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, é considerado oneroso e desgastante pelos petistas. Para desinflacionar esse mercado pré-eleitoral, setores do PT cobram do presidente do partido, deputado Ricardo Berzoini (SP), uma postura mais agressiva nas negociações com a maior legenda do país.

A estratégia é sair das cordas, evitando os discursos defensivos, como os pronunciados na ressaca da crise do Senado, que mostrou quão refém o PT está do PMDB. A operação consiste em diferenciar as atitudes do PT e do presidente Lula na crise do Senado, jogar no colo dos tucanos um pouco do ônus da sobrevivência do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e dar sequência aos acordos com PCdoB e PSB. Afinal, cresce a cada dia o grupo de estrelas petistas que não aposta na possibilidade de o PMDB apoiar formalmente a ministra Dilma em 2010. Isso não significa que os petistas pensam em abandonar os esforços para fechar a aliança em torno da chefe da Casa Civil. ¿O PMDB tem uma força que não pode ser desprezada. Nós devemos buscar a aliança em 2010 e se empenhar para isso¿, disse o secretário-geral do PT e candidato à sucessão de Berzoini, deputado José Eduardo Cardozo (SP). ¿Mas o prioritário deve ser buscar alianças com partidos de esquerda que temos identidade programática, como PCdoB e PSB¿, emendou.

O deputado Devanir Ribeiro (PT-SP) vai além. ¿Em política não há custo, há investimento. Nós somos governo e precisamos do PMDB¿, disse. Mas pondera: ¿Precisamos sair inteiros para a campanha do ano que vem¿, afirmou Ribeiro. O temor é de que o custo do apoio ao PMDB afete a governabilidade e enfraqueça as ações de governo vitrines para a chefe da Casa Civil, como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Os petistas preparam também uma campanha para limpar a imagem que ficou da crise do Senado. Lembram, por exemplo, que o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), atuou para fechar acordo e preservar Sarney. O ex-ministro da Secretaria de Direitos Humanos Nilmário Miranda defendeu que o PT tenha postura diferente da do presidente Lula, que emprestou todo seu apoio a Sarney. ¿A aliança deve ser mantida, mas o partido tem um modo de agir e o presidente tem outro¿, sustentou. Diferenciar atitudes serve para preservar petistas que enfrentarão as urnas e saíram desgastados da crise, como os senadores Aloizio Mercadante, crítico feroz da fatura peemedebista.

Nessa campanha de renovação da imagem, há espaço para a continuidade do pragmatismo. O PT já começou a cobrar dos peemedebistas empenho pela aliança com Dilma Rousseff, não apenas o valor nos estados, como na Bahia, onde o governador Jaques Wagner (PT) e o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), estão em guerra aberta. E no Pará, na disputa entre o deputado Jader Barbalho (PMDB) e a governadora Ana Júlia Carepa (PT).

Hoje o Partido dos Trabalhadores divide-se entre a ala pragmática e a que defende um reencontro com as bandeiras históricas. O primeiro grupo tem como expoentes Berzoini, o ex-ministro José Dirceu, (1)e o ex-senador José Eduardo Dutra, candidato da situação na eleição interna do PT. ¿Sem o PMDB não conseguimos governar. Estamos sendo obrigados a fazer a aliança. É difícil, mas é o que nos resta a fazer para que eles estejam conosco e não com o PSDB¿, disse o deputado Nilson Mourão (AC), aliado de Dirceu. Dutra é defensor da tese do ¿vale-tudo¿ para eleger Dilma, mesmo que signifique abandonar candidaturas nos estados em prol do PMDB.

1 - Negociador O ex-ministro José Dirceu tornou-se uma espécie de articulador informal da campanha da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, desempenhando papel parecido com o de 2002. O presidente Lula tem em Dirceu e no presidente do PT, Ricardo Berzoini, operadores das negociações nos estados. Ele quer empenho de ambos para não ver a sonhada aliança com o PMDB afundar. O presidente quer liberar a ministra para fazer os palanques de divulgação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Lula pretende acompanhá-la na maioria dos eventos. Vai retomar o esforço de colar sua imagem nela.

Cara a cara Paulo H. Carvalho/CB/D.A Press - 2/3/06

José Eduardo Cardozo, (PT-SP)

Neste momento de turbulência é preciso fazer uma reflexão sobre o que queremos fazer porque estamos no escopo de 2010. É preciso lembrar que os nossos aliados são os da esquerda, que têm identidade programática¿

José Varella/CB/D.A Press - 14/4/04

Devanir Ribeiro, (PT-SP)

O PMDB não cobrou muito. Nós somos governo, precisamos de governabilidade e por isso precisamos do apoio do PMDB e não o contrário. O desgaste da imagem vai depender da conjuntura no momento da eleição¿