Título: Analistas agora descartam alta de juros em 2012
Autor: Valente, Gabriela
Fonte: O Globo, 16/08/2011, Economia, p. 22
TREMOR GLOBAL: Economistas divergem sobre momento para começar cortes e estimular a economia brasileira
Previsões são de que crise levará o Banco Central a manter taxa básica em 12,5% ao ano até fevereiro de 2013
BRASÍLIA. Depois de uma semana de turbulência na economia mundial, os analistas do mercado financeiro descartaram um novo aumento dos juros no Brasil no ano que vem. Antes, a previsão era que 2012 começaria com alta da taxa básica, a Selic, que voltaria a cair e encerraria o próximo ano no patamar atual: 12,5% anuais. Agora, a aposta é que esse percentual seja mantido até fevereiro de 2013, horizonte da pesquisa feita pelo Banco Central (BC) com instituições financeiras.
Para o professor do Ibmec César de Oliveira Frade, essa previsão de estabilidade pelas próximas 13 reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) - incluindo as duas primeiras de 2013 - mostra que não há clareza do que está por vir com a crise internacional. Ele diz que só no mês que vem os dados começarão a refletir o que realmente as instituições esperam.
Os bancos terão de refazer as análises e incorporar às estimativas informações novas, principalmente, da crise na Europa. Muitos bancos só atualizam suas projeções uma vez por mês.
- Essa crise vai pesar mais nas previsões daqui para frente do que uma possível desaceleração do mercado interno - afirma Frade, lembrando que o Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre sairá no início de setembro. - Aqui o governo pode tomar alguma medida para reverter o quadro.
Previsão de inflação menor para este ano e 2012
Segundo o economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, o mercado já não apostava em aumentos da Selic relevantes no ano que vem. Agora, passou a ter certeza. No entanto, ele considera que ainda não é o momento para começar a cortar juros, como uma corrente começa a defender, para impedir que a atividade econômica desacelere demais no Brasil em função do baixo crescimento global.
- Queda na próxima (reunião do Copom) me parece praticamente impossível e seria precipitado - alega Barros.
Ele diz que uma queda rápida dos juros aconteceria somente se a crise fosse realmente grave:
- A crise, na fase atual, parece ser "a crise do medo de 2008" e não algo sistêmico.
No relatório diário enviado pelo Bradesco a investidores, a expectativa é que dados da economia que serão divulgados esta semana reforcem a ideia de desaceleração da atividade econômica no Brasil no segundo trimestre e que mostrem aceleração da inflação.
No entanto, segundo a pesquisa do BC, a previsão para a inflação oficial para o ano caiu de 6,28% para 6,26% pelo IPCA, pela segunda semana consecutiva. Para o ano que vem, as expectativas também recuaram de 5,27% para 5,23%. As estimativas para outros índices, como os IGPs, já diminuem há mais de dez semanas.
Balança comercial tem superávit de US$1,4 bilhão
As projeções para o PIB ficaram praticamente estáveis, em 3,93% para 2011 e em 4% para 2012. O dado que mostra o maior pessimismo em relação ao crescimento é o de produção industrial: cai há sete semanas seguidas e chegou a 3%.
Na segunda semana de agosto, a balança comercial registrou um superávit de US$1,420 bilhão, resultado de US$11,214 bilhões em exportações e US$9,794 bilhões em importações. A média diária exportada entre os dias 8 e 12, de US$1,121 bilhão, aumentou 28,3% em relação a agosto de 2010. A média importada, de US$979,4 milhões, cresceu 27,9%. No ano, há um saldo positivo acumulado de US$17, 506 bilhões, contra US$10,596 bilhões. Os números foram divulgados ontem pelo Ministério do Desenvolvimento. Em relação a agosto de 2010, houve crescimento nas vendas das três categorias: 54,7% em manufaturados, 29,7% em básicos e 18,1% manufaturados.