Título: O suprapartidário apoio à faxina
Autor:
Fonte: O Globo, 16/08/2011, Opinião, p. 6

A limpeza feita no Ministério dos Transportes/Dnit atingiu o PR, um partido de segunda grandeza da base do governo. Com 40 deputados e sete senadores, mesmo que a legenda fosse para a oposição - jamais aconteceria, pois o político fisiológico vive da proximidade do poder -, a maioria do Planalto no Congresso seria mantida ainda com razoável gordura.

Mas, enquanto isso, transcorria um inquérito sob segredo de justiça em torno do Ministério do Turismo, onde frações do PMDB maranhense, uma sublegenda deste fundada no Amapá, e uma ramificação do PT paulistano traficavam emendas parlamentares com ONGs, a fim de desviar dinheiro público para desvãos privados. Diante da devassa executada nos Transportes, condição imprescindível para o governo Dilma Rousseff acelerar como deseja investimentos públicos em parte da depauperada infraestrutura do país, o ex-presidente Lula se disse preocupado com a "governabilidade". Entenda-se: como ele assentou os dois mandatos sobre a fórmula fisiológica do toma lá dá cá, repetida na montagem do arco de apoio à candidatura Dilma, romper o método é, de acordo com esta visão da política, dar um salto no vazio.

A descoberta de transações desonestas no âmbito do Turismo, por meio de uma investigação executada por organismos de Estado - Polícia Federal, Justiça, Ministério Público - , colocou o governo Dilma numa área de fricção com o poderoso PMDB. Há críticas corretas do governo a desmandos policiais na detenção de funcionários da Pasta. Mas fez bem o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, esclarecer que não tinha de saber com antecedência da operação, pois ela tramitava sob sigilo legal. E assim deve ocorrer sempre, com o Executivo sem cair na tentação de colocar o Estado a seu serviço.

Enquanto as ramificações do escândalo no Turismo se alastram - vide a rede de laranjas criada no esquema de desvio de verbas revelada pelo GLOBO -, uma das joias da coroa peemedebista no governo, o Ministério da Agricultura, entregue a Wagner Rossi, fica mais exposta.

Depois das denúncias do irmão de Romero Jucá (PMDB-RR) contra o ministro, surgem agora novas histórias desabonadoras, publicadas pela "Veja". É visível a preocupação de Dilma Rousseff de preservar Rossi, em nome da tal "governabilidade". Compreende-se, mas, com isso, ela corre o risco de perder de vez o governo para a fisiologia. Assim, ganha relevância o movimento suprapartidário a favor da faxina ética lançado ontem no Senado. Cristovam Buarque (PDT-DF) resume com propriedade o momento político: "Se falta apoio porque a presidente faz a faxina, é a desmoralização." Da tribuna, Pedro Simon (PMDB-RS) formalizou a conclamação de um apoio desinteressado à presidente, para que ela avance no combate aos malfeitos. Chegou a lembrar que o movimento das Diretas Já teve início com poucas pessoas, ainda no regime militar, mas terminou mobilizando todo o país. Além de dissidentes do PMDB, como o próprio Simon e Jarbas Vasconcelos, pronunciaram-se por este apoio suprapartidário parlamentares do PP, do PSOL e do PDT. A oposição precisa decifrar a encruzilhada de Dilma e escolher o melhor caminho a tomar. E este é o do apoio à faxina. Da sociedade dita organizada não se deve esperar muito, devido à cooptação de sindicatos e entidades como a UNE pelo lulopetismo. Mas qualquer luta contra a corrupção vale a pena travar.