Título: Dilma estará certa ao conter gastos
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Fonte: O Globo, 16/08/2011, Opinião, p. 6

A presidente Dilma Rousseff se mostra convencida que para o Brasil enfrentar qualquer tormenta decorrente da atual crise econômica no mundo desenvolvido as contas públicas precisam estar em ordem. A presidente, segundo o jornal "Valor Econômico", teria determinado ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, um controle com mão de ferro sobre as finanças governamentais. O ministro prometeu assegurar uma surpresa positiva a cada vez na área fiscal - e, de fato, o superávit primário do governo federal voltou a ser relevante no novo governo.

O diagnóstico é um reconhecimento que a política monetária pouco pode fazer nessa conjuntura de crise no mundo desenvolvido sem que a política fiscal também dê uma forte contribuição.

Os índices de inflação ainda não permitem que o Banco Central afrouxe a política monetária e reinicie um processo de corte nas taxas básicas de juros. Isso seria uma temeridade em momento que o crédito continua a registrar elevadas taxas de expansão.

No entanto, se o setor público dosar sua demanda, contendo gastos, haverá espaço para que os demais segmentos continuem a crescer, sem que isso se traduza em pressão sobre os preços.

A contenção dos gastos deve ser necessariamente seletiva, pois investimentos públicos permanecem bem-vindos, porque o Brasil necessita urgentemente de melhor infraestrutura, além de avanços na qualidade da educação, da saúde, da segurança pública, da habitação popular, etc.

A contenção das despesas governamentais deve ser preferencialmente nos itens de custeio, o que esbarra, por exemplo, nos gastos de pessoal. Só no primeiro semestre, a folha de pagamentos aumentou 11,3% (em relação a igual período de 2010), ou R$8,8 bilhões, sendo R$6,9 bilhões em decorrência de reajustes autorizados na administração Lula. O crescimento foi bem acima da inflação. Mesmo com a decisão do atual governo de não conceder aumento real para os vencimentos dos servidores e suspender temporariamente novos concursos públicos, o impacto dos reajustes aprovados na administração Lula será de R$800 milhões em 2012.

Para controlar os gastos de custeio com mão de ferro o governo terá de neutralizar vários projetos, na direção oposta, que tramitam no Congresso. Deputados e senadores devem ser convencidos da mudança de rumos. A economia brasileira não precisa de estímulos para crescer mais. Na verdade, hoje o maior desafio é moderar o ritmo de crescimento, para que o país não se veja em uma situação vulnerável no caso de agravamento da crise no mundo desenvolvido. A política monetária não pode cuidar disso sozinha, pois a taxa básica de juros já atingiu um patamar bastante alto, abrindo grande distância em comparação às que estão vigorando na economia mundial.

Ao que tudo indica, a presidente Dilma está consciente dessa limitação e dos riscos envolvidos também no caminho de volta (corte dos juros). Então só resta mesmo a opção da política fiscal.