Título: Pimentel: Podem nos jogar nos anos de chumbo
Autor: Moisés, José Álvaro
Fonte: O Globo, 16/08/2011, O País, p. 4

ESCÂNDALOS EM SÉRIE

Maria Lima

Gerson Camarotti

BRASÍLIA. Os líderes da base aliada e, principalmente, senadores petistas receberam com ironias e reserva a frente suprapartidária contra corrupção e impunidade, lançada em apoio à faxina da presidente Dilma Rousseff. A oposição também desacreditou o movimento. O líder do PSDB, senador Álvaro Dias (PR), acusou Dilma de estar fazendo retórica ao defender a limpeza ética, mas impedir a instalação de uma CPI do Dnit.

O líder do governo, senador Romero Jucá (PMDB-RR), agradeceu o apoio dos senadores independentes, mas ressaltou ser desnecessário formar uma frente para combater a corrupção.

- Acho que não é preciso formar um grupo. Todos no Senado são contra a corrupção. Só discordo desse movimento porque muito desses senadores querem a CPI. Esse não é o melhor instrumento para combater a corrupção - disse Jucá.

Os ataques mais duros não só à frente, mas à faxina feita em alguns ministérios, vieram do ex-ministro da Previdência, senador José Pimentel (PT-CE). Ele foi à tribuna criticar o movimento e fazer um discurso em defesa do ex-presidente Lula. Chegou até a alertar que esse movimento pode ter desfecho parecido com movimento da faxina anticorrupção da década de 50, que bombardeou o então presidente Getúlio Vargas e depois atingiu o presidente Juscelino Kubitschek com a desmoralização da classe política.

- A história se repete como farsa - disse Pimentel, lembrando que, na década de 50, diante de uma enxurrada de denúncias de corrupção no governo, o jornalista Carlos Lacerda comandou um movimento que "deu no que deu".

- A gente nunca pode esquecer que nos anos de chumbo esmagaram os políticos e as instituições. O presidente Getúlio Vargas teve que dar um tiro no peito.

Não tem ninguém querendo dar golpe, rebate Simon

O senador Pedro Simon rebateu dizendo que o episódio não tem parâmetro de comparação com a situação de hoje, já que, naquela época, não existia a imprensa que o país tem hoje:

- Não tem nenhum Carlos Lacerda nem ninguém querendo dar nenhum tipo de golpe.

- Aqueles que ontem patrocinaram a campanha da vassoura continuam presentes por aí e podem nos jogar de novo nos anos de chumbo - insistiu Pimentel.

Líder do PT, o senador Humberto Costa (PE) também pregou cautela:

- O debate faz parte da essência do parlamento. Agora, não se trata de usar esse grupo para substituir a base aliada.

Os próprios integrantes da frente reconhecem que o movimento é insuficiente para dar sustentação ao governo.

- Não dá para desmontar um sistema mantido até recentemente. O "presidencialismo de coalisão" vem se deteriorando. Isso fica claro com o aparelhamento político dos ministérios. Os partidos se apossam de órgãos, estatais e pastas. Esse modelo chegou ao seu esgotamento. Não sou ingênuo de dizer que temos condições de mudar isso com esse grupo. Mas temos que refletir sobre qual modelito a presidente Dilma vai vestir a partir de agora - disse o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES).

O tucano Álvaro Dias argumentou que só o discurso de Dilma não resolve.

- Esse processo tem de ir além da retórica. A CPI (do Dnit) é uma grande oportunidade de colaborar com essa faxina.