Título: NY corre para retomar normalidade após Irene
Autor: Godoy, Fernanda
Fonte: O Globo, 29/08/2011, O Mundo, p. 26

NY CORRE PARA RETOMAR NORMALIDADE APÓS IRENE 29/08/2011

Furacão vira tempestade, mas aeroportos seguem fechados e metrô só deve voltar a funcionar hoje à tarde

UM CICLISTA passa diante de um táxi enguiçado em Manhattan numa das poucas ruas de Nova York alagadas na passagem da tempestade Irene

fgodoy@oglobo.com.br

NOVA YORK. ¿Antes precavido do que arrependido¿. Este foi o mantra dos nova-iorquinos para enfrentar o furacão (que já chegou à cidade rebaixado a tempestade tropical) Irene, que acabou não causando os estragos previstos. Com a paralisação do metrô e de todo o sistema de transporte público desde o meio-dia de sábado, moradores e turistas ficaram aliviados, porém a pé, depois da passagem de Irene. E a cidade corre agora para retomar sua rotina.

A previsão até ontem à noite era de que os transportes só voltariam à normalidade hoje à tarde, e o prefeito Michael Bloomberg, ao suspender a ordem de evacuação de áreas onde vivem mais de 300 mil pessoas, advertiu que a ida ao trabalho hoje de manhã seria ¿muito dura¿. Os três aeroportos da região de Nova York/Nova Jersey (JFK, LaGuardia e Newark) continuavam fechados, com expectativa de reabertura hoje à noite ou amanhã de manhã, segundo Chris Ward, diretor da Autoridade Portuária. A Bolsa de Valores, em Wall Street, que esteve ameaçada de interdição, anunciou que vai funcionar normalmente na abertura do pregão, às 9h30m. Em Manhattan, não houve os alagamentos esperados, nem mesmo no Battery Park, o ponto mais ao sul da ilha.

¿ Acho que eles nunca viram uma enchente na Marginal do Tietê, é muito pior que esse furacão ¿ comentou o paulistano Eduardo Machado, que chegou na quinta-feira com a mulher, Adriana, para a primeira visita à cidade. ¿ Os americanos são precavidos. Estão certos, melhor pecar pelo excesso.

Bloomberg e o governador Andrew Cuomo se empenharam em defender as decisões tomadas para preparar a cidade contra a tempestade.

¿ Não quisemos arriscar a vida de um nova-iorquino sequer. Faria tudo do mesmo jeito outra vez. Quando há um furacão a caminho, não podemos nos sentar e torcer para que nada ocorra ¿ disse Bloomberg, em pronunciamento na TV.

Cuomo afirmou estar convencido de que o governo acertou ao suspender os transportes públicos.

¿ Isso permitiu que muitos carros fossem tirados dos trilhos e mantidos em segurança. Então, a volta pode ser acelerada ¿ disse Cuomo em entrevista à TV NY1.

¿Eu sobrevivi ao furacão Irene¿ vira frase de camiseta

No entanto, como os vagões foram movidos para outros lugares, que não os habituais, todo o remanejamento deveria levar horas, e alguns distritos, como o Brooklyn, ficariam quase desprovidos de trens. Funcionários da MTA (a companhia metropolitana de transportes) trabalhavam na retirada de galhos caídos nos trechos das linhas de metrô que ficam na superfície a na drenagem da água acumulada em galerias subterrâneas.

Sem metrô, ontem a cidade foi dos pedestres e ciclistas. Logo após a passagem da tempestade, milhares de pessoas tomaram as ruas, aliviadas ao constatar que o apocalipse não havia chegado, e ansiosas por esticar as pernas, levar as crianças e os cães para passear. O Central Park, fechado durante todo o dia de ontem para avaliação dos estragos, foi invadido por moradores e visitantes ansiosos pelo fim do confinamento.

¿ Já estava sentindo cabin fever (a ansiedade das pessoas que ficam presas por causa da neve). Sei que vão criticar o prefeito pelo excesso de zelo, mas ele acertou. Ninguém deve correr de risco de vida desnecessariamente ¿ disse uma moradora do Upper West Side que se identificou apenas como Mary.

Times Square voltou rapidamente a ser o formigueiro humano de sempre, e alguns gaiatos já desfilavam com camisetas com os dizeres ¿Eu sobrevivi ao furacão Irene¿. Mas o fato de a maioria das lojas e restaurantes continuar fechada, assim como museus, teatros e cinemas, frustrou os turistas, como Jung Choe, moradora de São Paulo:

¿ Entendo a decisão do prefeito, porque ele teria sido responsabilizado se algo acontecesse. Mas não temos o que comprar!