Título: A guerra pelas obras paulistas
Autor: Campbell, Ullisses
Fonte: Correio Braziliense, 25/08/2009, Política, p. 4

Governos federal e de São Paulo brigam pela paternidade de projetos de infraestrutura na capital e interior do estado

Serra, um dos nomes tucanos para disputar a Presidência em 2010: guerra de investimentos

São Paulo ¿ O governador José Serra (PSDB) e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) começaram a disputar quem dá mais visibilidade às obras que estão em andamento no estado de São Paulo, maior colégio eleitoral do país. Há uma semana, o tucano assinou convênios com 114 prefeituras numa cerimônia cheia de pompa na capital. No mesmo período, o PT começou a veicular na televisão, só em São Paulo, uma propaganda político-partidária mostrando as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que estão sendo feitas no estado, com destaque para o Rodoanel, uma via perimetral complexa que circunda o núcleo central da Região Metropolitana de São Paulo.

Em junho, Serra pediu a Lula e conseguiu R$ 300 milhões para concluir a obra do trecho sul do Rodoanel ainda neste ano. Para deixar claro ao eleitor que tem dedo do PT no empreendimento, a propaganda bem produzida na tevê começa com a seguinte pergunta: ¿Você sabia que a obra do Rodoanel conta com investimentos do governo Lula?¿. Na sequência, registra que a ampliação da linha 2 do metrô paulista também é uma obra do PAC, a maior vitrine política da presidenciável Dilma Rousseff, ministra-chefe da Casa Civil.

Segundo dados do governo federal, Lula investiu mais de R$ 1 bilhão no Rodoanel. ¿O PT trabalha para gerar emprego e dar vida digna para todos os paulistas¿, anuncia a propaganda. Para não ficar atrás, Serra vem inaugurando pequenos trechos de rodovias que fazem parte do mesmo complexo viário. Na sexta-feira, ele comemorou numa cerimônia pública a conclusão das obras de duplicação da Rodovia Raposo Tavares, entre os municípios de Assis e Maracaí. Na ocasião, o governador tucano fez questão de deixar claro que aquele trecho de 25km custou R$ 106 milhões e todo o capital saiu dos cofres estaduais por meio de um programa chamado Recuperação de Estradas Estaduais do Departamento de Estradas de Rodagem (DER).

Prefeituras

São de pequenas obras que Serra também vem turbinando a sua pré-candidatura. Ao discursar na semana passada, ele se vangloriou de a Subsecretaria de Relacionamento com Municípios, órgão ligado diretamente ao seu gabinete, ter batido um recorde na liberação de recursos para prefeituras. De uma só canetada, foram repassados R$ 35.395.336,23 para 112 municípios. ¿Esses convênios são uma demonstração que trabalhamos em conjunto com as prefeituras¿, disse o governador na cerimônia de assinatura.

Entre os empreendimentos que serão bancados com esses recursos, também tem de tudo, como o PAC (1)de Lula. Pelos contratos assinados entre o governo de São Paulo e as prefeituras, a população de Batatais ganhará uma ponte que passará sobre o Córrego dos Peixes. Os idosos de Aramina vão ganhar um clube esportivo para a terceira idade. Em Franca, a rodoviária será reformada. No município de Ituverava, também será construída uma ponte sobre o Córrego Calção de Couro. Já em Pontal será construída uma praça com os recursos liberados por Serra. ¿Desde 2007, já foram assinados 3.232 convênios que beneficiaram 584 municípios¿, disse por e-mail a assessoria de imprensa do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista.

1 - Desembolso José Serra terá que desembolsar mais se quiser competir em obras com o PAC de Dilma. Só em São Paulo, o governo federal vai investir até as eleições R$ 101,5 bi em mais de 300 empreendimentos. No rol de obras, há construção de casas populares, distribuição e urbanização de lotes, saneamento, transmissão de energia, abastecimento de água e asfaltamento. A maioria vai ser inaugurada em 2010.

O que seriam dos políticos sem as obras? Elas beneficiam a população e são garantias de votos¿

João Paulo Peixoto, cientista político da Universidade de Brasília

Campanha nas ruas

Para João Paulo Peixoto, cientista político da Universidade de Brasília (UnB), as obras tocadas por Luiz Inácio Lula da Silva e José Serra deixam claro que a campanha presidencial já está na rua. ¿Só não vê quem não quer¿, frisa. Na sua avaliação, as obras são intensificadas em São Paulo porque o estado tem o maior colégio eleitoral do país e será palco de um grande embate nacional em 2010.

Os resultados nas eleições do ano passado deram início às disputas entre os partidos da base aliada do governo Lula e a oposição por influência nas chapas que vão disputar em 2010. No primeiro turno, as urnas paulistas mostraram que a oposição saiu enfraquecida nas eleições municipais. Já no segundo turno, das 31 cidades que tiveram votação, 27 elegeram partidos da base aliada de Lula (PMDB, PT, PP, PR, PTB, PSC, PTC, PT do B, PSB, PDT, PC do B, PMN e PAN). Nas principais capitais brasileiras, a base aliada saiu das eleições de 2008 com 21 prefeitos e a oposição com apenas cinco.

O cientista político Carlos Montalvão, da Universidade de Campinas, também reforça que o colégio eleitoral paulista é o mais complicado do país quando se fala em campanha eleitoral. ¿Como tem o maior número de eleitores e concentra o maior produto interno bruto, o estado acaba sendo cenário da disputa nacional mais acirrada¿, diz.

Municípios

São Paulo também é o estado em que Lula menos consegue penetração, apesar de ter feito base eleitoral lá. Nas eleições de 2008, por exemplo, quando o petista disputou o Palácio do Planalto com Geraldo Alckmin (PSDB), Lula perdeu em quase todos os municípios. No estado de São Paulo, o tucano teve 11.927.802 votos (54,20%) contra 8.091.867 (36,77%) do petista no primeiro turno. Na segunda fase da disputa, Alckmin teve 11.696.938 votos (52,26%) e o petista, 10.684.776 votos (47,74%).

Paulo Peixoto prevê dificuldades para Dilma Rousseff em São Paulo. ¿A classe média paulista não vota no PT e o Lula não conseguiu nem eleger a Marta Suplicy no ano passado¿, ressalta. ¿Já o Serra tem popularidade altíssima em São Paulo e vem intensificando as inaugurações no segundo semestre¿, completa. (UC)