Título: Lucros em alta, ações de bancos em baixa
Autor: D¿Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 29/08/2011, Economia, p. 22

Mesmo com bons resultados no ano, papéis de instituições sofrem com crise mundial, além dos riscos de inflação

GALDI: RISCO faz investidor global vender ação de banco em qualquer lugar

ronaldod@sp.oglobo.com.br

SÃO PAULO. Se o ambiente de crédito mais restrito e juros em alta, patrocinado pelo governo desde o início do ano para esfriar a economia e trazer a inflação para os trilhos, já não vinha sendo bom para as ações do setor bancário, o recrudescimento da crise na zona do euro e dos problemas na economia americana só fizeram piorar o quadro. Os papéis dos bancos brasileiros ostentam perdas no ano que estão longe de refletir os resultados, que, na maioria dos casos, as instituições apresentaram nos seus balanços.

Os quatro maiores bancos listados na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) ¿ Itaú Unibanco, Bradesco, Santander e Banco do Brasil ¿ lucraram juntos R$20,7 bilhões no primeiro semestre, um crescimento de 15,2% em relação ao mesmo período de 2010. Mas suas ações encerraram o pregão na sexta-feira amargando perdas de 29,5% (PN), 17,7% (PN), 35% (Units) e 15,5% (ON) no período, respectivamente. O Ibovespa, principal índice do mercado acionário brasileiro, acumula queda de 23,02% no ano. O quadro para as ações dos bancos menores, naturalmente, não é muito diferente.

¿ O pior de tudo foi a instabilidade dos bancos europeus, que a cada teste de estresse mostravam suas fragilidades. E o risco de quebra de um banco na Espanha, por exemplo, faz o investidor global apertar um botão mandando vender papéis de banco em qualquer lugar ¿ diz Pedro Galdi, analista-chefe da SLW Corretora, resumindo o estrago da turbulência externa das últimas semanas nas ações dos bancos brasileiros.

Rumores sobre uma excessiva exposição dos bancos locais a títulos europeus e americanos, desmentidos depois, ajudaram também a corroer os preços aqui. O estrago, contudo, está feito. Entre 25 de julho, antes do rebaixamento da dívida dos Estados Unidos pela Standard & Poor¿s, e a sexta-feira passada, o valor das ações PN do Itaú Unibanco encolheu 14,14%, as ON do Bradesco 10,1% e as Units do Santander, 10%.

¿ Apesar do cenário desafiador, não há justificativa para quedas tão expressivas ¿ diz Willian Castro Alves, da XP Investimentos.

Cotação baixa é considerada boa oportunidade

Se faz sofrer o investidor que já tinha os papéis, o atual patamar dos preços das ações dos bancos é visto pelos analistas como excelente oportunidade. A diferença está na leitura que cada um deles faz dos balanços de cada banco, e que define a recomendação que fazem para cada papel. As ações do Itaú Unibanco, apesar do lucro líquido menor e da inadimplência maior no segundo trimestre ante o primeiro, são recomendadas pelos quatro analistas ouvidos pelo GLOBO. O mesmo acontece com Bradesco e BB.

¿ Todos eles estão com preço abaixo do que sugerem seus fundamentos, por isso são boas oportunidades para quem olha um horizonte de 18 a 24 meses ¿ diz José Augusto Sales, da Lopes Filho Consultoria de Investimentos: ¿ Mas não dá para dizer que essa é a hora de comprar, porque há muita incerteza lá fora.

O Santander é olhado com mais reservas pelos especialistas também por causa da exposição de sua matriz à crise na zona do euro.

¿ Por mais que se diga, o mercado fixa o preço de Santander levando em conta o risco da matriz, que está no meio do furacão. Além disso, o banco aqui está mais espanhol (muitos executivos estão vindo da Espanha para postos-chaves aqui) e isso preocupa pelo risco de maior ingerência ¿ diz Francisco Kops, analista da Planner Corretora.

Embora mais suscetíveis aos trancos de uma eventual crise de liquidez nos mercados internacionais, os bancos de menor porte também estão no radar dos analistas. Kops, da Planner, cita o Banrisul e o Paraná Banco como instituições com "grande fôlego" para crescer e por isso boas opções.

¿ E estão baratos, mas quem assumir agora posição nesses papéis tem que trabalhar com retorno de um a dois anos.

Analista espera consolidação entre bancos menores

Alves, da XP, conta que, no início do ano, tinha recomendações a alguns papéis de bancos menores, caso do Pine. Não mais agora. Galdi, da SLW, diz que deve haver uma consolidação forte entre os bancos menores. Por isso não os analisa a fundo.

¿ Se houver uma quebra de banco lá fora, há risco de pânico que afetaria todo mundo nesse segmento e os grandes bancos acabam até ganhando captação, como aconteceu em 2008 ¿ observa Kops, da Planner.