Título: Meu pai foi um heroi, diz filho de condutor
Autor: Brito, Cibelle
Fonte: O Globo, 29/08/2011, Rio, p. 14

Amigos e parentes dizem que motorneiro gritou para que passageiros pulassem do bonde e tentou frear

A FILHA do casal morto na tragédia, Sabrina Soares: o marido continua internado

cibelle.brito@oglobo.com.br

Aplausos, choro e revolta marcaram o enterro de três das cinco vítimas do acidente em Santa Teresa, ontem à tarde no Cemitério de Inhaúma. O filho do motorneiro Nelson Correia da Silva, o técnico em panificação Nelson Correia da Silva Júnior, de 31 anos, disse que seu pai foi um heroi:

¿ Ele fez de tudo para salvar os passageiros. Trabalhar diariamente naquelas condições precárias, só sendo heroi.

O corpo do motorneiro chegou no início da tarde à capela Santa Isabel. Junto aos parentes, colegas e ex-colegas de profissão, além de moradores de Santa Teresa, prestaram solidariedade aos parentes.

Entre os moradores, o guia turístico Raphael Santana, de 25 anos, disse que Silva era conhecido como Tartaruga, pelo extremo zelo com a velocidade. Acompanhado da mulher, a francesa Laura Santana, radicada no país há quatro anos, ele diz que o problema dos bondes é a manutenção precária. No bairro há 12 anos, a comerciante Bianca Melo Costa, de 27 anos, ressaltou a coragem do condutor.

¿ Ele poderia ter abandonado o bonde, mas ficou gritando para os passageiros pularem e fez de tudo para frear ¿ afirmou a comerciante, moradora do Largo das Neves.

Aposentado desde 2009 pela Companhia Estadual de Engenharia de Transportes e Logística (Central), que opera o sistema de Santa Teresa, Genildo de Carvalho, de 51 anos, lembra do colega como um homem gentil com turistas e idosos. A opinião é compartilhada por José Ferreira dos Santos Filhos, condutor dos bondes há 17 anos.

No enterro, colegas de Silva pediram uma salva de palmas para o motorneiro. Além do filho, Nelson deixou a mulher, Dulce Correia da Silva, e uma filha.

A auxiliar de creche Ivone da Silva Soares e o aposentado João Batista Soares foram enterrados, no início da tarde, no mesmo local. De acordo com o irmão de Ivone, Arivaldo da Silva, era a primeira vez que o casal passeava no bonde de Santa Teresa. Eles estavam acompanhados do genro, que continua internado no hospital Copa D¿Or, e da filha, Sabrina Soares, que foi ao cemitério ainda com um curativo na mão.

¿ Não estou entendendo nada. Ainda quero saber onde estão meu pai e minha mãe ¿ desabafou.