Título: Um jornalista lembrado por sua bravura
Autor: Brisolla, Fabio; Moreira, Martha Neiva
Fonte: O Globo, 29/08/2011, O País, p. 12

Despedida de Rodolfo Fernandes, diretor de Redação do GLOBO, reúne família, colegas de profissão, políticos e artistas

Uma lição de bravura. Assim os amigos definiram a luta de Rodolfo Fernandes, diretor de Redação do GLOBO, que morreu no sábado, vítima de esclerose lateral amiotrófica, uma doença neurodegenerativa. Ontem, um grupo heterogêneo, formado por políticos, jornalistas, artistas e empresários, esteve no velório realizado no Memorial do Carmo, no Cemitério do Caju. Muitos destacaram a determinação de Rodolfo diante da doença que, aos poucos, foi tirando seus movimentos. Entre os presentes na cerimônia estavam o ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB), o vice-governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, os senadores Aécio Neves (PSDB-MG) e Lindbergh Farias (PT-RJ) e o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB-RJ).

Além de políticos, artistas foram prestar uma última homenagem a Rodolfo: a atriz Marieta Severo, o cineasta Cacá Diegues, a escritora Marina Colasanti e os humoristas Marcelo Madureira e Cláudio Manoel. Também compareceram à cerimônia os irmãos João Roberto Marinho (vice-presidente das Organizações Globo), José Roberto Marinho (vice-presidente das Organizações Globo) e Roberto Irineu Marinho (presidente das Organizações Globo).

- Rodolfo foi um profissional ímpar. E, mais que tudo, foi um grande amigo de todos nós, que só vai deixar boas lembranças - disse João Roberto.

José Roberto elogiou o desempenho de Rodolfo à frente do comando da Redação:

- Ele era um exemplo de ética e de postura profissional. Uma pessoa querida por todos.

Rodolfo tinha 49 anos e dois filhos, Felipe e Letícia, do primeiro casamento com Sandra Araújo. Ao chegar no Memorial do Carmo, a economista Maria Silvia Bastos Marques, a atual mulher, falou sobre o convívio com Rodolfo.

- Tínhamos duas paixões em comum: o jornalismo e a cidade onde moramos. Venho de família de jornalistas também. Sou neta de jornalista. Também sou apaixonada pelo Rio, como ele sempre foi. Rodolfo tinha uma característica marcante, era imparcial, o que contrastava muito bem com minha personalidade impetuosa. Ele sempre foi alegre e afetuoso. Andamos de mãos dadas na alegria e na tristeza até o final - disse Maria Silvia.

Pai destaca a paixão do filho pelo futebol

O jornalista Hélio Fernandes, pai de Rodolfo, de 90 anos, falou sobre outras paixões de seu filho:

- O destino não o deixou completar 50 anos. Ele nasceu jornalista e foi jornalista a vida inteira. Assim como foi Flamengo, desde que começou a ir ao Maracanã comigo. Vimos juntos duas Copas do Mundo, na Itália e na França. Ele era uma pessoa extraordinária.

Rodolfo torcia pelo Flamengo, mas também entrava em campo com a camisa do Politheama, time de peladas criado pelo cantor e compositor Chico Buarque.

- Era impossível não achá-lo encantador. Era muito alegre. Quando lembro dele, imediatamente me vem a sensação de um sorriso - disse a atriz Marieta Severo, ex-mulher de Chico Buarque.

Uma trajetória vitoriosa dentro das redações

Rodolfo começou a carreira aos 16 anos, com uma breve passagem pela "Tribuna da Imprensa". Passou pelas redações da "Folha de S. Paulo" e do "Jornal do Brasil", antes de entrar no GLOBO, em 1989, onde chegou a diretor de Redação em 2001. O amigo Merval Pereira acompanhou boa parte dessa trajetória.

- Rodolfo foi um diretor do GLOBO que deixou sua marca na defesa dos interesses do estado e, especialmente, na defesa do jornalismo. Era um jornalista nato, um repórter sobretudo - disse Merval. - A todos nós, ele deu uma lição de bravura e de amor ao jornalismo.

Zuenir Ventura, colunista do GLOBO, elogiou a elegância de Rodolfo no comando da Redação:

- Ele mostrou que, para liderar, não é preciso dar soco na mesa. Nunca se ouviu um grito de Rodolfo. Mas ele também nunca abaixou a cabeça.

O prefeito Eduardo Paes citou a preocupação de Rodolfo com a cidade:

- Ele tinha uma característica marcante: a sua enorme carioquice. Sempre reservou um espaço na primeira página do GLOBO para debater os assuntos da cidade. Ele vai fazer muita falta neste debate, mesmo nos temas em que era contra o prefeito.

O ex-governador de São Paulo José Serra destacou o bom humor do jornalista e citou sua capacidade de liderança:

- Era um grande jornalista, competente e extremamente capaz para liderar a grande equipe do jornal. Um democrata no sentido concreto da palavra.

O senador Aécio Neves também fez uma avaliação sobre a trajetória do jornalista:

- Rodolfo fez uma escola ética e profissional. E soube construir relações em todos os campos. Certamente uma nova geração de jornalistas se formou seguindo seu exemplo.

- Perdemos o Rodolfo na flor da idade. Ele tinha muito a contribuir ainda com o país e com o jornalismo - disse Luiz Fernando Pezão, vice-governador do Estado do Rio.

O governador Sérgio Cabral não foi ao velório, mas decretou luto oficial de três dias e disse que batizará uma escola do estado com o nome Rodolfo Fernandes. O corpo do jornalista foi cremado ontem à tarde.