Título: O pior pós-crise desde a Depressão de 1929
Autor: Durão, Mariana
Fonte: O Globo, 17/08/2011, Economia, p. 21

Para Edgar Dosman, problemas na economia mudarão relações entre países

Os países desenvolvidos terão de amargar muitos anos com alto desemprego, o que será o maior período de estagnação desde a Depressão de 1929. Essa é uma das conclusões do canadense Edgar Dosman, que está no Brasil para lançar a biografia de Raúl Presbisch, economista argentino que ajudou a criar a Comissão Econômica para a América Latina (Cepal). Dosman também participa de um debate amanhã no Rio promovido pelo Centro Celso Furtado. Tal como ocorreu nos anos 30, os acontecimentos devem mudar o paradigma da economia global, diz Dosman. Não, ele não prevê uma guerra, mas uma nova ordem e relações entre países.

- Esse deve ser o período mais longo de crise desde 1929. Nesse contexto, a discussão sobre o estado na economia ganha nova conotação - disse, por telefone, ao GLOBO, se referindo ao período que começa com o tremor global de 2008. - Assim, o pensamento de Presbisch e de seu amigo Celso Furtado, os dois maiores pensadores da economia na região da metade do século passado, ganha força - completa.

Mas uma das maiores diferenças entre agora e a Depressão de 29 é a força chinesa, que dará um alento ao mundo, em especial a países como o Brasil.

Especialista em América Latina, o autor de "Raúl Prebisch, a Construção da América Latina e do Terceiro Mundo", afirma que o momento ainda é bom para o Brasil e seus vizinhos. Ele analisa que alta nos preços das commodities - produtos básicos como soja, minério de ferro e petróleo -, deve permitir à região uma bonança, mas que estas nações não podem se viciar nestas matérias-primas, sob o risco desindustrialização:

- O modelo é a Noruega, país rico em petróleo que usou essa riqueza para diversificar sua economia - disse, lembrando que a preocupação em fortalecer o mercado interno e qualificar a mão de obra, que ganha força agora na região, são fundamentais.

Assim, diz, o Brasil caminha naturalmente para liderar a América do Sul e rivalizar com o México.