Título: Governo cede e promete R$5 bi de emendas
Autor: Braga, Isabel; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 17/08/2011, O País, p. 10

Valor seria liberado ate o fim do ano; para conter revolta de aliados, Dilma promete empenho imediato de R$1 bi

BRASÍLIA. Para conter a rebelião da base aliada na Câmara dos Deputados, mesmo sem um cronograma formal, o governo fez chegar aos líderes um novo pacote para empenho (autorização para pagamento futuro) e liberação de emendas de parlamentares ao Orçamento da União. Ofereceu de imediato o empenho de R$1 bilhão, com a promessa de chegar a R$5 bilhões até o final do ano. E mais o pagamento, ainda em agosto, de R$400 milhões de emendas que constam dos chamados restos a pagar (empenhadas em anos anteriores), sendo R$150 milhões esta semana e mais R$250 milhões na sequência.

Com essas medidas, a soma de restos a pagar alcançará R$1,3 bilhão no início de setembro. Os líderes governistas receberam a informação de que a meta do Planalto é alcançar R$2,5 bilhões de liberação de restos a pagar até o fim do ano. Valor inferior aos R$4,6 bilhões que estão estocados, mas que, no momento de crise financeira internacional, pode acalmar a base. Mas o governo ainda não pode anunciar o que pretende empenhar, porque ainda há restrição do Ministério da Fazenda.

A presidente Dilma Rousseff e a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, mantiveram ontem o segundo dia de agrado aos políticos. A presidente recebeu líderes de PSB, PDT e PCdoB no Planalto. E Ideli despachou num gabinete da Câmara, passando a tratar individualmente as demandas dos deputados.

"Vamos votando o que é possível"

Ainda assim, no final do dia, os deputados ainda estavam cautelosos. Eles vão aguardar as liberações para retomar a agenda de votações. Depois da greve branca na semana passada, os deputados concordaram em retomar as votações no plenário, num ritmo lento.

- Parece que foi o cronograma possível para eles. Vamos votando o que é possível para nós. Se quiser colocar que é operação padrão, pode - resumiu o líder do PTB, Jovair Arantes.

- Eles fingem que liberam e nós fingimos que votamos - resumiu um influente líder da base aliada.

O encontro de anteontem de Dilma com PMDB e PT, quando foi até servida uma sopa de legumes no Planalto, funcionou tão bem, que, ontem, o líder do PMDB, deputado Henrique Eduardo Alves (RN), era só elogios à presidente Dilma:

- A presidenta inaugurou um novo período em seu governo. A conversa de ontem acalmou meu espírito. Conversa respeitosa com a política e a atividade política. Como presidente, não pode apenas liderar a economia e a administração, tem que liderar a política. Utilizou a prática do diálogo, do convencimento. Com um jeito mais paciente, mais compreensível. Mudou a relação, não sei como, não sei por quê. Em relação ao PMDB, evoluiu muito. Sugeri até que ela me devolva o bambolê (dado por ele a Dilma quando ela ainda era ministra do governo Lula, num sinal de que precisava ter mais jogo de cintura política).