Título: O apoio à limpeza geral
Autor: Ventura, Zuenir
Fonte: O Globo, 17/08/2011, Opinião, p. 7

No lançamento da frente suprapartidária para apoiar a presidente Dilma no combate à corrupção, o senador Pedro Simon lembrou que o movimento das Diretas Já começou com meia dúzia de pessoas, mas depois ganhou o país. Para isso, no entanto, para mobilizar a população, foi necessário conquistar o que a nova frente ainda não tem: a adesão de entidades da sociedade civil como OAB, ABI, CNBB, sindicatos e, evidentemente, a UNE. Seria uma boa oportunidade para o órgão máximo dos estudantes desmentir o que se diz dele, que após virar chapa-branca nunca mais abraçou uma causa nobre. Simon acha que a presidente não pode ceder à chantagem dos próprios aliados, enquanto Cristovam Buarque, outro dos nove integrantes do grupo, acredita que se lhe faltar no Congresso sustentação para a faxina será "a completa desmoralização". Como se sabe, ela está sendo alvo de uma rebelião de sua base, formada por partidos que foram atingidos pela limpeza. Mais do que apoio, ela está precisando de socorro. Na contramão do mundo, os "rebeldes" aqui se rebelam não contra a corrupção, mas contra o combate a ela.

Ainda há pouco, houve um impressionante surto de indignação seletiva contra a publicação num jornal do Amapá das fotografias de seis presos na Operação Vaucher. Foram fotos 3x4 dos acusados segurando na altura do peito fichas de identificação, uma prática corriqueira nos presídios. A cena não era inédita. Desta vez, porém, como não se tratava de presos comuns, os protestos surgiram de todas as partes, a começar pela presidente, que classificou o episódio como "inaceitável". O vice-presidente também. O ministro da Justiça considerou uma "ofensa à dignidade humana". Protestaram juízes, advogados, senadores, deputados. Tudo bem, foi um justo repúdio. Só se lamenta que protestos idênticos não se tenham feito ouvir contra outros abusos à dignidade humana, como a roubalheira de dinheiro público.

Nas últimas semanas, houve uma avalanche de denúncias envolvendo os Ministérios dos Transportes, da Agricultura e do Turismo, com a revelação de um estarrecedor repertório de irregularidades: fraudes em licitações, desvios de verba, superfaturamentos, cobrança de propinas etc. O Maranhão, por exemplo, se cumpridos todos os convênios, receberá do Ministério do Turismo, do maranhense Pedro Novais, cerca de 1.450% a mais de recursos que o Rio de Janeiro. Também foram destinados milhões para o Amapá, onde o número de presos por corrupção talvez seja maior do que o de turistas. Que vozes se levantaram contra esses e outros absurdos?

Por isso, o movimento dos senadores, transformando em ação a indignação, é bem-vindo, contanto que em troca do apoio exija da presidente a extensão da faxina, que deve ser geral e irrestrita. Não pode parar na porta do PMDB e do PT, por exemplo.