Título: Passos: suspeitas são naturais
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Fonte: O Globo, 17/08/2011, O País, p. 3

Pasta tem indícios de fraudes por ter muitas obras, diz ministro, que descarta CPI

BRASÍLIA. Com a justificativa de que os aditivos para obras do Dnit estão previstos na Lei de Licitações e são necessários porque os contratos são feitos com base em projetos básicos, o ministro dos Transportes, Paulo Passos, negou ontem, em depoimento na Comissão de Infraestrutura do Senado, problemas em obras sob a sua responsabilidade. Sem a presença de nenhum dos integrantes da frente parlamentar de combate à corrupção, criada na véspera, o ministro achou "natural" o fato de o Tribunal de Contas da União encontrar indícios de irregularidades, devido ao grande número de obras tocadas pelo ministério. E descartou necessidade de uma CPI nos Transportes ou em qualquer outro ministério.

- O ministério não fez absolutamente nada de ilegal. Os aditivos não significam necessariamente ilegalidades ou exemplos de superfaturamento, até porque um aditivo não nasce de uma canetada - assegurou o ministro, evitando, porém, entrar no mérito das 28 demissões registradas na pasta desde o início da faxina determinada pela presidente Dilma Rousseff.

- Se Vossa Excelência estivesse correto, a presidente Dilma estaria incorreta, porque ela promoveu demissões! - provocou Álvaro Dias (PR), líder do PSDB no Senado.

Mas o ministro só se irritou mesmo quando Dias o questionou sobre relato de seu antecessor no cargo, o senador Alfredo Nascimento (PR-AM), que admitiu ter ficado assustado com o aumento de R$58 bilhões para R$72 bilhões no valor das obras do Programa de Aceleração do Crescimento nos Transportes. A constatação teria sido feita quando Nascimento reassumiu o comando da pasta no início deste ano, após Passos ter ocupado sua vaga na campanha eleitoral.

- Isso não é orçamento, é estimativa de desembolso global do PAC - rebateu Passos.

O ministro também não gostou quando foi questionado sobre a indicação de Miguel Masella, que era presidente do conselho da Valec, outro órgão atingido por denúncias, como secretário-executivo dos Transportes.

- Quem está lhe falando aqui é um homem correto, honesto, de passado limpo. É alguém que tem 38 anos na esfera federal servindo da melhor forma a causa pública. O secretário que está comigo, eu o conheço há 38 anos e posso lhe afiançar de que é profissional íntegro e correto como eu - disse, considerando desnecessária criação de CPI: - Não acho que tenhamos necessidade de uma CPI para verificar e punir quem quer que seja, no Ministério dos Transportes ou em outro. Hoje, temos meios institucionais e legais para isso, e confio neles.

O ministro deixou claro ainda que sua permanência no cargo independe da decisão do PR em permanecer ou não base do governo:

- Já fui servidor na gestão de vários governos, trabalhei com PFL, PSDB e PMDB, e tenho uma vida na qual não se pode lançar dúvida. Enquanto puder, estarei pronto para servir ao governo da presidente Dilma, enquanto ela entender que sou a pessoa certa para os Transportes.

O líder do PR no Senado, Magno Malta (ES) - o único dos sete senadores do partido na audiência -, não se mostrou incomodado com a declaração do ministro. Fez elogios à firmeza com a qual Passos se defendeu.