Título: Juro do cheque especial atinge maior patamar em 12 anos: 188% anuais
Autor: Valente, Gabriela
Fonte: O Globo, 25/08/2011, Economia, p. 29

Consignado também avança em julho, mas novas concessões de crédito caem 5%

BRASÍLIA. A taxa de juros do cheque especial atingiu em julho o maior patamar em 12 anos: 188% anuais. No mês passado, quando a Selic foi elevada pela quinta vez consecutiva, os juros dessa modalidade subiram 3,3 pontos percentuais, informou ontem o Banco Central (BC). Além do aperto monetário, que puxa o custo de captação dos bancos, começa-se a sentir os efeitos do aumento da inadimplência. A taxa de atrasos superiores a 90 dias registrou o pico em 14 meses: 6,6%.

A única outra modalidade de crédito a ficar mais cara para as pessoas físicas foi o consignado (desconto em folha), que avançou 0,2 ponto percentual, a 27,9% ao ano. Os dois itens bastaram para puxar para cima os juros médios cobrados das famílias, que passaram a 45,7% anuais em julho, alta de 0,4 ponto percentual. E nos 11 primeiros dias de agosto, já subiram a 46,4%.

- O juro do cheque especial reflete o perfil do tomador, porque tem taxa diferenciada dentro da mesma instituição - explicou o chefe do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel.

Para as empresas, mesmo com a inadimplência estável, o financiamento ficou mais caro em julho: 31,4% anuais (alta de 0,6 ponto percentual). Mas, até o dia 11, recuava a 30,7%.

Os dados do BC mostram ainda que o aperto monetário iniciado em dezembro de 2010 e o prenúncio de uma crise internacional têm tido efeitos discretos na concessão de empréstimos pelas instituições financeiras. O volume geral de crédito cresceu 1,1% em julho, a R$1,8 trilhão (47,3% do PIB).

Mas, pelo segundo mês consecutivo, as novas concessões de financiamento recuaram (5%), o que pode apontar uma desaceleração, apesar de o BC dizer que isso é comum em julho. A pressão do crédito direcionado - aquele que o governo decide como deve ser emprestado, como do BNDES -, porém, ainda é muito forte.

Em 12 meses, a expansão do crédito foi de 19,8%, muito acima dos 15% vistos pelo presidente do BC, Alexandre Tombini, como saudáveis para a economia, pelo seu efeito sobre a inflação. Mas, para o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio CNC), Carlos Thadeu de Freitas, é o mercado de trabalho, não o aumento do crédito, que alimenta a alta de preços.