Título: Indústria fraca deve frear PIB no ano
Autor: Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 25/08/2011, Economia, p. 29

Altos estoques, temor de queda da demanda mundial e real forte afetam setor

Henrique Gomes Batista,Fabiana Ribeiro e Wagner Gomes

RIO e SÃO PAULO. A indústria brasileira deverá puxar para baixo o crescimento da economia nacional neste ano. O real valorizado - que ampliou o acesso de produtos importados ao país - e altos estoques, resultado da redução do consumo, fazem com que economistas reduzam as previsões do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) no segundo trimestre. Estes fatores combinados com o temor de uma demanda mundial mais fraca por causa da atual crise do endividamento dos países ricos também secam as projeções da economia brasileira no segundo semestre.

A Tendências Consultoria, por exemplo, acredita que a indústria vai registrar retração de 0,9% no segundo trimestre em relação ao primeiro, enquanto a queda dos investimentos, na mesma comparação, será de 1,6%. Com isso, a consultoria reduziu na semana passada sua projeção do PIB do segundo trimestre de 1,1% para 0,7%. Assim, o crescimento do ano, antes previsto em 3,9%, deverá ser de 3,5%.

- O responsável por isso é a indústria, que está com estoques altos em diversos segmentos. Seus problemas são estruturais, envolvem o câmbio e a perda de competitividade. Acreditamos que no ano a expansão do setor será de 2,1% mas acreditamos que isso deva melhorar em 2012, quando a produção industrial deve crescer 4,5% e o PIB 3,7% - afirmou Alessandra Ribeiro, economista da Tendências.

Para muitos economistas, a recuperação só deve vir a partir de 2012, quando o governo já estará tomando medidas para aquecer a economia, que começará a sentir mais os impactos da crise global.

A indústria brasileira, setor que levou o maior tombo com a crise de 2008, avança no segundo semestre com estoques acima do que especialistas consideram ideal. Para evitar mais produtos nos pátios, muitas fábricas deram uma trava na produção. E, assim, chega a ser 1,6% menor do que a de setembro de 2008, antes da quebra do Lehman Brothers. Entre junho e julho, o estoque de matérias-primas da indústria eletroeletrônica passou de 31% para 40% e o de produtos acabados de 32% para 44%. Na automobilística, o estoque subiu ainda mais em julho, chegando a 367,1 mil unidades (o equivalente a 36 dias de vendas), contra 341,9 mil unidades em junho. Encalhes também aparecem na metalurgia, na siderurgia - que está com quase o dobro do estoque normal -, em vestuário e calçados e farmacêutico.

- A crise externa ainda não nos afetou. Os estoques são reflexo da queda nas vendas provocada pela restrição ao crédito do governo desde o início do ano, mas a desconfiança no consumidor com a crise internacional pode prejudicar o setor - afirmou Humberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee).