Título: Petrobras turbina investimento
Autor: Otoni, Luciana
Fonte: Correio Braziliense, 25/08/2009, Economia, p. 20

Gasto de R$ 26,8 bi no primeiro semestre, o maior desde 1995, estimulará iniciativa privada

O investimento de R$ 26,8 bilhões da Petrobras entre janeiro e junho deste ano contribuirá para a retomada dos investimentos no setor privado, após o engavetamento dos projetos de expansão em consequência da crise econômica. O gasto da companhia em obras para a ampliação da oferta de petróleo e gás natural nos primeiros seis meses de 2009 foi R$ 9,2 bilhões superior ao movimentado em igual período de 2008, correspondendo à maior execução desde 1995. Em igual período de 2008 e de 2007, esses resultados foram de R$ 17,6 bilhões e R$ 15,6 bilhões, respectivamente.

Assim como o ocorrido no setor financeiro, no qual os bancos federais (Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal) reduziram os juros e saíram na dianteira da oferta de crédito, a companhia acelerou as obras de infraestrutura e aumentou as encomendas de projetos, insumos, equipamentos e embarcações, ampliando a demanda no setor naval, na indústria química, de bens de capital, de máquinas de precisão e mobilização de empresas de engenharia.

¿A Petrobras se tornou um grande puxador de investimentos. E isso tende a ocorrer não somente em 2009, mas também nos anos seguintes porque a empresa se defronta com o desafio de explorar o pré-sal e vários setores da indústria vão pegar carona nessas encomendas¿, afirma Amir Khair, analista de contas públicas.

Ele avalia que as encomendas da estatal do petróleo ajudarão o setor privado a elevar a produção, criando as pré-condições para que os industriais comecem a desengavetar os planos de investimento a partir de 2010. Ele também aponta os financiamentos ofertados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) como um dos propulsores do aquecimento do setor industrial a contar do terceiro trimestre.

Encomendas O maior gasto da companhia demanda ampliação da frota de navios petroleiros, modernização dos estaleiros, equipamentos para a montagem de plataformas, construção de refinarias e reforço nas equipes de trabalho. As obras de maior porte em andamento são as plataformas de exploração P-51, P-52, P-53, P-54 e P-57. Também as refinarias Comperj, no Rio de Janeiro, e de Abreu Lima no Porto de Suape (Pernambuco) são obras de grande porte em andamento. Na demanda por embarcações, o destaque é a encomenda de 23 navios, sendo dois superpetroleiros.

Com a forte arrancada nos investimentos na primeira metade de 2009, a Petrobras respondeu, de forma isolada, pelo maior gasto em obras de infraestrutura no país. O economista Gil Castelo Branco, consultor da ONG Contas Abertas, lembra que a estatal do petróleo concentra 90% dos recursos da União para obras de infraestrutura e que sua maior capacidade de gasto em ampliação da oferta de petróleo e gás natural tem potencial para influenciar direta e indiretamente a retomada dos investimentos na iniciativa privada. ¿A Petrobras alavancará outros segmentos produtivos da iniciativa privada¿, analisou.

A despeito do forte acréscimo dos investimentos no primeiro semestre, a Petrobras movimentou 40,5% do total de R$ 66,1 bilhões programados para este ano. Ou seja, a companhia tem metade de 2009 para gastar mais R$ 39,3 bilhões.

Demais estatais patinam

Enquanto a Petrobras investiu R$ 26,7 bilhões entre janeiro e junho, as demais estatais fracassaram em seus projeto de implantação, ampliação e modernização. Excluídos os gastos feitos pela companhia de petróleo, as demais 67 empresas federais movimentaram R$ 2,9 bilhões de um total de R$ 13,3 bilhões no primeiro semestre do ano. O grupo Eletrobras, que reúne 15 companhias do setor elétrico, gastou R$ 1,9 bilhão de sua carteira de R$ 7,2 bilhões. O maior reforço partiu de Furnas Centrais Elétricas, que gerou despesa de R$ 613 milhões.

O poderoso Ministério da Fazenda, que conta com R$ 3,5 bilhões este ano principalmente distribuídos no Banco do Brasil (R$ 1,7 bilhão) e na Caixa Econômica Federal (R$ 1,1 bilhão) gastou R$ 748 milhões entre janeiro e junho, 20,9% do total. Parte desses recursos é usada para ampliação da rede de agências e melhora dos serviços bancários. O Ministério da Defesa, que possui R$ 1 bilhão para ampliação e modernização de aeroportos, utilizou R$ 138 milhões, 13% do total.

Uma ideia da representatividade do gasto da Petrobras frente ao restante do governo foi dada pela ONG Contas Abertas, que observou que enquanto a estatal se aproximou dos R$ 30 bilhões nas despesas com infraestrutura na primeira metade do ano, os órgãos dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário investiram R$ 11,2 bilhões (LO)