Título: PT apoia ida de Paulo Bernardo ao Congresso para falar de uso de aviões
Autor: Vasconcelos, Adriana; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 25/08/2011, O País, p. 4

Gleisi reafirma em nota que não usou aeronave da Tripoloni na campanha

BRASÍLIA. Por determinação da presidente Dilma Rousseff, que quer ver esclarecidas as denúncias sobre suposto uso de jatinhos da empreiteira Sanches Tripoloni pelo ministro das Comunicações, o PT anunciou ontem que apoiará a ida de Paulo Bernardo, e qualquer ministro que precise se explicar, ao Senado ou à Câmara. Após ser bombardeado na Câmara pela oposição sobre a denúncia anteontem, Paulo Bernardo deverá voltar a se explicar, desta vez na Comissão de Ciência e Tecnologia (CCT) do Senado. A audiência foi marcada para a próxima quarta-feira.

O convite a Paulo Bernardo partiu do presidente da CCT, o senador Eduardo Braga (PMDB-AM), e surpreendeu a cúpula peemedebista. Isso porque, no jantar anteontem com Dilma no Jaburu, dirigentes do PMDB teriam decidido colocar freio nas convocações de ministros. A avaliação feita é que esse seria um dos fatores que estariam alimentando a crise política deflagrada pela faxina ética pelo governo, que teve início no Ministério dos Transportes.

Convite a ministro passou despercebido por petistas

A votação do convite a Paulo Bernardo passou despercebida para os petistas presentes na reunião da CCT. De qualquer forma, em reunião da bancada, na véspera, os senadores petistas já haviam acertado que não se oporiam a convites dirigidos a qualquer ministro.

- Existe uma determinação da presidente de que todos os convites da Câmara e do Senado devem ser atendidos pelos ministros. Assim, ele (Paulo Bernardo) virá, pois já havia esse pedido para tratar do Plano Nacional de Banda Larga. Mas, se tiver de tratar de outros assuntos, ele não se furtará (disso) - adiantou o líder do PT, senador Humberto Costa (PE).

O governo quer que Paulo Bernardo rebata todas as acusações que pesam contra ele, desde a crise do Dnit. No núcleo palaciano, a avaliação é que Paulo Bernardo se transformou num alvo, principalmente com o objetivo de atingir a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. Segundo um colega de governo, a ministra Gleisi "está abatida" com essa especulação, quando ela precisa se concentrar nas questões de governo.

Além disso, há um temor com a possibilidade de o ministro das Comunicações ser atacado por aliados no Congresso, que estão insatisfeitos e ameaçam dar um troco no PT, especialmente representantes de PR e PMDB. Ele aproveitaria para falar dos aditivos de obras do Ministério dos Transportes, quando era ministro do Planejamento do governo Lula. Em depoimento na Câmara e no Senado, o ex-diretor geral do Dnit Luiz Antonio Pagot negou qualquer irregularidade nas solicitações de Paulo Bernardo.

Integrante do chamado G-8, grupo de senadores independentes da bancada peemedebista, Eduardo Braga justificou sua iniciativa com o argumento de que o convite havia sido formulado para que Paulo Bernardo fale especificamente do Plano de Banda Larga e das repercussões da aprovação do projeto de lei que unifica as regras do mercado de TV por assinatura, que abre o segmento para empresas de telefonia e elimina parte das restrições de participação de capital estrangeiro.

- Foi tudo combinado com o próprio ministro - assegurou Braga.

Gleisi: "Gastos estão na prestação de contas"

A ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, encaminhou ontem ao GLOBO a seguinte carta: "Em relação à matéria "Aeronave não consta de declarações", esclareço que não contratei jato em minha campanha eleitoral. O contrato para deslocamento aéreo incluía uma aeronave Seneca, que, mais tarde, foi substituída por um Cheyenne. O custo da hora/voo desses aviões é muito inferior ao custo dos jatos, como o tipo Learjet. Fiz muitos deslocamentos de carro e partilhei viagens com os outros candidatos majoritários da coligação". Na nota, a ministra reitera que sua campanha não se utilizou de aeronave da empresa Tripoloni.

"Todos os meus gastos de campanha estão na prestação de contas enviada à Justiça Eleitoral, que a aprovou sem ressalvas", escreveu a ministra Gleisi.