Título: Compra da Schin faz investimento estrangeiro ficar 50% maior no país
Autor: Valente, Gabriela
Fonte: O Globo, 24/08/2011, Economia, p. 22

Na conta de turismo, novo recorde: brasileiros gastam 43% mais lá fora

BRASÍLIA. A economia ainda aquecida faz do Brasil um refúgio para os investimentos estrangeiros no setor produtivo. Só em julho, o país recebeu quase US$6 bilhões em Investimento Estrangeiro Direto (IED), divulgou ontem o Banco Central (BC). O valor ficou 50% acima dos US$4 bilhões que previa a instituição. A compra da Schincariol pela japonesa Kirin aumentou a entrada de recursos. São os investimentos que garantem o financiamento das contas externas, porque o resultado de todas as trocas de serviços e do comércio do Brasil com o resto do mundo - as chamadas transações correntes - foi deficitário em US$3,5 bilhão mês passado.

O desempenho do mês refletiu o que ocorre ao longo de 2011: o IED no ano é recorde desde 1947 e, por outro, o rombo nas contas externas nunca foi tão grande nos últimos 64 anos. Entre janeiro e julho, a conta corrente (balança comercial e serviços) está no vermelho em US$28,9 bilhões. Esse rombo é coberto, com folga, pelos US$38,4 bilhões que ingressaram em IED.

- O que a gente observa é que o déficit deve continuar sendo financiado de maneira bastante favorável, com ingressos significativos de investimentos estrangeiros diretos, o que do ponto de vista econômico é mais saudável - avaliou o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Túlio Maciel.

O turista brasileiro também continua gastando muito lá fora. Foram 43% mais do que em julho de 2010, US$2,2 bilhões. Em agosto até agora, os gastos somam US$2,3 bilhões.

No ano, as despesas dos brasileiros no exterior somam US$12,4 bilhões. Enquanto isso, os estrangeiros deixaram no Brasil apenas US$3,9 bilhões.

Para o economista do Banco Safra e ex-secretário do Tesouro Carlos Kawall, há uma melhora das contas externas, que já não dependem mais tanto de capital de curto prazo, como no passado. No entanto, ele avalia que o problema pode estar no médio prazo. Para o economista, a situação indica que o real está muito valorizado.

- A visão generalizada é que o Brasil está caro demais - alega. - Além do câmbio valorizado, tem a inflação.

Com o câmbio muito apreciado, a competitividade dos exportadores nacionais é afetada. O professor Marcos Fernandes, da Fundação Getulio Vargas (FGV), também acredita que os atuais números podem mascarar problemas estruturais nas contas externas. Por exemplo, o da balança comercial, que, afirma, só não "apodreceu" por causa da demanda da China por commodities.

- A médio e longo prazos, se o câmbio não se ajustar, enfrentaremos uma crise típica do balanço de pagamentos - afirma, em referência ao ajuste brusco e forte do câmbio, com custos para o controle da inflação.

Outro fator de pressão sobre as transações correntes é a conta de serviços. As empresas desembolsaram US$3,5 bilhões a mais do que ganharam com itens como frete e aluguel de equipamentos no exterior. Este é um reflexo da incapacidade do setor produtivo nacional de atender a toda a demanda doméstica.

O setor de extração mineral foi o que mais alugou equipamentos fora do país. O gasto de US$1,4 bilhão foi recorde e 29% superior ao do mesmo período do ano passado.