Título: Diesel: vilão do meio ambiente
Autor: Bertelli, Luiz Gonzaga
Fonte: Correio Braziliense, 25/08/2009, Opinião, p. 23

Diretor da Fiesp e presidente executivo do Ciee e da Academia Paulista de História

Rudolf Diesel, engenheiro alemão, com a publicação dos seus trabalhos, em 1893, veio a inspirar a construção do primeiro motor a diesel. A ideia inicial era queimar carvão pulverizado à temperatura constante, posteriormente alterada pelo próprio inventor.

Os veículos a diesel, atualmente, no Brasil constituem o principal componente do preço do transporte. Em média, o derivado do petróleo representa mais de 32% do custo operacional de um veículo pesado, podendo alcançar em torno de 40% nos percursos mais longos.

Cerca de 2 milhões de caminhões, acionados a diesel, circulam nas rodovias brasileiras, acarretando um consumo anual do combustível líquido da ordem de 45 bilhões de litros, um dos maiores do mundo, sendo que 20% dessa quantidade são importados, eis que as refinarias da Petrobras não conseguem mais assegurar a totalidade do abastecimento interno.

Quanto ao preço, o litro do diesel subiu, na média, de R$ 1,87 para R$ 2,10 nas bombas. Nos dias atuais, os valores dos derivados do petróleo são superiores aos similares de outras nações e perto de 50% mais altos que nos Estados Unidos.

Existem analistas que, inclusive, preconizam a hipótese da redução de 15% a 20% no preço do diesel nos postos de abastecimento. À semelhança do setor elétrico, onde os impostos chegam a quase 50%, o diesel sofre a tributação de 22%, embora inferior aos 41% da gasolina automotiva.

Quanto à Petrobras, apresentou lucros de R$ 33 bilhões em 2008. A hipótese seria viável, o que corrigiria a distorção do preço do diesel, além de reduzir os custos do transporte rodoviário a óleo diesel na nação, a grande opção brasileira, preterindo as ferrovias.

Diante desse cenário, inexplicavelmente, o Senado Federal acaba de aprovar a liberação de vendas de carros de passeio a diesel, entre nós, antiga reivindicação da indústria automobilística brasileira. Na Europa, é usual a venda de carros pequenos, que consomem diesel.

Não obstante, no nosso país, a produção do óleo diesel não é autossuficiente, bem como a má qualidade do energético, comprovadamente, é apontada pelo Ministério Público, autoridades ambientais e especialistas da área médica, como a principal responsável pelas enfermidades respiratórias e pulmonares. Outra evidência científica é a que mostra que os habitantes de São Paulo vivem menos do que os europeus, pois respiram ar mais poluído. Mais da metade dos habitantes do estado (seis em cada 10) vivem em cidades saturadas por ozônio (03), um dos poluentes mais nocivos à saúde, resultantes da queima de diesel.

Ademais, a norma da Agência Nacional do Petróleo (ANP) que estabelece a quantidade de enxofre no diesel brasileiro (50ppm em 2009) não tem sido cumprida pela nossa principal estatal. Para o Instituto de Energia e Meio Ambiente, quando se propugna o combate ao aquecimento global, o maior emprego de um combustível fóssil (diesel), em carros de passeio, seria uma afronta aos defensores de um ar mais limpo, o que poderia ocorrer com o acentuado emprego de veículos a etanol (álcool) ou biodiesel, no tráfego das cidades, em frotas de ônibus, caminhões e utilitários.

Em princípio, a Petrobras pretenderia liberar o óleo diesel para os táxis e, mais tarde, oferecê-lo para os veículos de passeio de uso normal. Para o professor Paulo Saldiva, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), as pessoas mais sujeitas a caso de câncer, envelhecimento precoce do pulmão e doenças respiratórias são aquelas que vivem na capital paulista, metrópole impregnada por gases tóxicos, resultantes da queima de combustíveis derivados do petróleo.

Um desafio de um país em pleno desenvolvimento, como é o caso brasileiro, é alcançar crescimento econômico compatível com meio ambiente saudável, sem prejuízo à saúde dos habitantes. Daí a imprescindibilidade da redução das emissões de poluentes, promovendo a melhoria da qualidade dos combustíveis líquidos.

Nada, no entanto, poderá ser efetuado, se não houver uma política energética e para os combustíveis bem definida, ainda não existente no Brasil. As questões sobre o setor têm se restringido, até agora, aos aspectos políticos e institucionais, sem a devida inserção dos temas técnicos e, principalmente, ambientais, como é o caso do maior uso do óleo diesel.