Título: Alquimia: mais investigados pela PF
Autor: Herdy, Thiago; Talento, Biaggio
Fonte: O Globo, 24/08/2011, Economia, p. 21
Escritórios de advocacia e consultoria teriam ajudado a montar esquema de sonegação
BELO HORIZONTE e SALVADOR. A lista de pessoas investigadas pela Polícia Federal (PF) na Operação Alquimia cresceu nos últimos dias. Em depoimentos à PF, funcionários e gerentes do Grupo Sasil atribuem a donos de escritórios de advocacia e de consultoria a co-responsabilidade pela montagem do esquema de sonegação fiscal que a PF e a Receita estimam em pelo menos R$1 bilhão. Se confirmada a participação, estes novos atores também serão indiciados por formação de quadrilha, sonegação fiscal e evasão de divisas.
Os investigadores negam que servidores públicos e políticos sejam alvos da operação, mas algumas das empresas laranjas, que chegaram a movimentar mais de R$100 milhões anuais, nunca tinham sofrido qualquer tipo de fiscalização da Receita.
- São mais de 40 empresas de fachada que nunca foram autuadas. A auditoria em pouquíssimas firmas já resultou em mais de uma centena de milhões de reais em dívida tributária, imagine quando terminar a fiscalização das Receitas Federal e Estadual nos 17 estados onde a Sasil estava. Só assim vamos ter a dimensão exata - disse um dos responsáveis pela operação.
Seis dos 24 presos na operação desde a última quarta-feira continuam detidos. Segundo a PF, os principais acusados de comandar o esquema, os irmãos Paulo e Ismael Cavalcanti, negam serem donos de empresas registradas em nomes de funcionários e pessoas ligadas a eles.
- O trabalho agora é terminar de reinterrogar todos os envolvidos e cruzar os dados de toda documentação apreendida. Apenas da Bahia sairão mais de 70 malotes, imagine o volume de material no resto do Brasil - disse outro investigador.
Uma análise prévia dos documentos apreendidos já indica novas linhas de apuração, mas os responsáveis não quiseram entrar em detalhes para não atrapalhar o processo, sob segredo de Justiça. A Polícia apresentou à Justiça uma representação solicitando a soltura de mais de dez presos que teriam colaborado com a investigação, ao confirmar detalhes do esquema.
Os investigadores já identificaram movimentos de envio de recursos a empresas do grupo nas Ilhas Virgens Britânicas, paraíso fiscal. A PF tem conseguido provas de que houve reintegração deste patrimônio a empresas brasileiras ligadas ao Sasil.
Paulo Cavalcanti, preso anteontem ao desembarcar no aeroporto de Salvador após dez dias na Europa, qualificou de "avalanche de acusações absurdas" as notícias publicadas sobre o caso. Ele se manifestou por meio de uma "Carta à Sociedade", lida antes da entrevista convocada por seu advogado, Gamil Föppel, ontem na capital baiana. Do aeroporto, Cavalcanti foi conduzido à superintendência regional da PF, onde foi ouvido por dez horas. Ontem, foi transferido para o Complexo Penitenciário da Mata Escura.
O empresário contou que estava de férias com a família e deixou o Brasil sem qualquer restrição. Afirma ter se apresentado de livre e espontânea vontade e se diz pronto a "apoiar a investigação que injustamente nos atingiu". Negou ligação "societária ou pessoal com empresas sonegadoras, off-shore ou não" e que a Sasil e a Variant são "empresas 100% auditadas e que prezam pela transparência nas suas contas". Ele só admite ter mantido "relações comerciais de compras e vendas diversas, na década de 90, com algumas das empresas citadas no caso" e assinala que isso "não traz nenhuma imputação legal".
O advogado entrou com ação para desbloquear os bens arrestados pela Justiça, mas ainda não obteve resposta.