Título: Aeronave não consta de declarações
Autor: Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 24/08/2011, O País, p. 4

Prestações de contas excluem King Air da construtora Tripoloni

Marcus Vinicius Gomes*

BRASÍLIA e CURITIBA. As prestações de contas de candidatos a cargos majoritários no Paraná apoiados pelo ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, não mencionam supostos pagamentos pelo uso de uma aeronave King Air, matrícula PR-AJT, pertencente ao empresário Paulo Francisco Tripoloni, sócio da Construtora Sanches Tripoloni, que teria sido usada pelo ministro, como informou a revista "Época".

Em nota divulgada anteontem, Paulo Bernardo informou que ano passado participou de campanhas eleitorais no Paraná durante fins de semana, feriados e férias, o que é permitido por lei. A nota afirma que "para isso, utilizávamos aviões fretados pela campanha, o que incluiu aeronaves de várias empresas, que receberam pagamento pelo serviço".

Na prestação de contas de sua mulher, Gleisi Hoffmann, atual ministra da Casa Civil que concorreu ao Senado em 2010, não há nenhum pagamento para a Tripoloni por uso de aviões. A assessoria de Gleisi informou que ela gastou R$56.980 com transporte aéreo. As despesas ocorreram com duas empresas: Hércules e Helisul, ambas do Paraná. Gleisi recebeu da Tripoloni R$510 mil para sua campanha.

Na prestação de contas de Roberto Requião (PMDB), que também concorreu ao Senado pela coligação de Gleisi, há gastos de pouco mais de R$400 mil com táxi aéreo. O dinheiro foi para a companhia aérea Vip Jet, que tem como sócio Francisco Simeão Rodrigues Neto, primeiro suplente na chapa de Requião. Ele não recebeu doação da Tripoloni, segundo prestação de contas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O candidato ao governo do Paraná Osmar Dias (PDT), apoiado por Paulo Bernardo e Gleisi, não informou gasto com táxi aéreo. Dias recebeu R$50 mil da empreiteira e R$150 mil de Paulo Francisco Tripoloni.

Mesmo os comitês financeiros das campanhas dos candidatos apoiados por Paulo Bernardo não gastaram nenhum centavo - segundo a prestação de contas ao TSE - com fretamento de aeronaves. De acordo com registro na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a aeronave de Tripoloni pode atuar como "serviço aéreo privado" - o avião não pode ser usado como táxi aéreo.

A assessoria de Gleisi informou que Paulo Bernardo, que não concorreu nas eleições de 2010, viajou para poucas localidades com ela no ano passado para fazer campanha. E disse que a participação dele se deu "em alguns finais de semana e feriados".

As empresas de táxi aéreo de quem Gleisi afirma ter locado aeronaves não confirmaram a sublocação do avião King Air da Construtora Sanches Tripoloni. Segundo Deiwes de Quadros, sócio-gerente da Hércules, as companhias estão proibidas pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) de sublocar aviões privados:

- O controle é feito através da matrícula das aeronaves e consta do Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB). Se a aeronave é um táxi aéreo, essa especificação vai constar no controle geral - afirmou, frisando que a empresa não subloca aviões.

A direção da Táxi Aéreo Helisul também foi procurada pelo O GLOBO e solicitou que as perguntas fossem enviadas através de e-mail. Até o fechamento desta edição o e-mail não havia sido respondido.

* Especial para O GLOBO