Título: Ministro não descarta uso de avião de empreiteira que fez obra no PR
Autor: Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 24/08/2011, O País, p. 4

CRISE NA BASE

Paulo Bernardo nega relação entre possível viagem e favores à construtora

BRASÍLIA. O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, não descartou ontem que tenha usado avião da empreiteira Sanches Tripoloni, para não ser "desmentido caso aparecesse uma foto mostrando". Ele admitiu que conhece Paulo Tripoloni e André Sanches, sócios da empresa. Blindado pelo PT contra perguntas sobre denúncia da revista "Época", contou, em audiência pública na Câmara para discutir rádio digital, que participou de uma festa em Maringá em comemoração à liberação de verbas para a obra Contorno de Maringá, incluída no PAC e investigada pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

- Não posso descartar (que tenha voado em aeronave da empreiteira). Não conheço o avião - disse o ministro.

Ele destacou que fazia a declaração por questão de prudência, porque em diversas "outras ocasiões", quando era deputado, ou durante a campanha, pegou carona em aviões particulares. Frisou, porém, que não se lembrava dos prefixos das aeronaves:

- Daqui a pouco, pode aparecer uma foto de oito anos atrás, mostrando.

O ministro, no entanto, tentou desvincular as caronas de eventual troca de favores:

- Acho que é preciso ficar bem claro, e quero repelir com veemência, que dizer que um ministro que pega carona no avião é para fazer favor em troca de liberação de emenda. Isso é uma coisa absolutamente ridícula, leviana e irresponsável.

"Não fui candidato. Não tenho prestação de contas"

Perguntado pela oposição a respeito das relações entre sua mulher, a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, e a empreiteira, disse que não responderia por ela porque não era seu procurador. Porém, fez questão de esclarecer que a Sanches Tripoloni doou R$510 mil para a campanha da Gleisi ao Senado em 2010. No entanto, frisou que a empresa também contemplou partidos da oposição e outros senadores.

Disse que ajudava na campanha da mulher nos fins de semana e reafirmou que os deslocamentos em aviões no Paraná eram providenciados e pagos pelo PT:

- Não fui candidato. Não tenho prestação de contas nenhuma. Só peguei carona.

O ministro lembrou que o período em que esteve à frente do Planejamento foi duro, devido às pressões que sofreu, mas que isso faz parte do cargo. Afirmou que a inclusão do Contorno de Maringá no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) foi sugerida pelos parlamentares do Paraná. Acrescentou que, na ocasião, ele foi convencido de que o empreendimento teria impactos positivos para a região. Refutou ser hoje o "padrinho do problema", referindo-se aos aditivos feitos ao contrato.

Paulo Bernardo também contou que conheceu Paulo Tripoloni na festa de Maringá e que o outro sócio da empresa, André Sanches, já era seu conhecido há muito tempo. O ministro voltou a criticar a imprensa, dizendo que há uma nova modalidade de jornalismo "insinuativo", com denúncias de fontes anônimas e sem provas. E afirmou que o parlamentar que disse tê-lo visto embarcado em avião da empreiteira deve se apresentar.

O deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) disse que o ministro não respondeu às perguntas. E ironizou o fato de o ministro ter dito que pegou carona, sem saber de quem era o avião:

- Ele não esclareceu. Se diz que era o partido quem pagava os fretamentos, é preciso comprovar. Caso contrário, mentiu - disse o deputado, afirmando que fará uma busca detalhada na prestação de contas da ministra na Justiça Eleitoral.

O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) apresentou requerimento à Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle pedindo a convocação do ministro para dar explicações. Em outro requerimento, pede informações ao Ministério da Defesa sobre os deslocamentos, desde 2009, do avião King Air de prefixo PR-AJT, inclusive os passageiros.

Além do suposto uso de aviões da empresa responsável pelo Contorno Viário de Maringá, os deputados do DEM Onyx Lorenzoni e Pauderney Avelino (AM) questionaram as doações da empreiteira à campanha de Gleisi. Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Gilmar Machado (PT-MG) iniciaram um bate-boca para evitar que as questões fossem abordadas, já que não eram tema da audiência pública. O líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), disse que o ministro poderia responder aos questionamentos na próxima semana, na Comissão de Fiscalização e Controle.