Título: Paulo Bernardo diz que só usou jato fretado
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Fonte: O Globo, 23/08/2011, O País, p. 9

CRISE NA BASE

Gleisi também nega ter utilizado avião que não os alugados por sua campanha para o Senado, no ano passado

BRASÍLIA e CURITIBA. Os ministros das Comunicações, Paulo Bernardo, e da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, afirmaram ontem que só usaram aviões fretados durante a campanha eleitoral de 2010, quando ela concorreu e foi eleita para o Senado. No fim de semana, reportagem da revista "Época" informou que Paulo Bernardo, quando era ministro do Planejamento, em 2010, pegou carona num avião do empresário Paulo Francisco Tripoloni, dono da construtora Sanches Tripoloni, que em 2010 recebeu R$267 milhões do governo federal.

O ministro teve audiência ontem com a presidente Dilma Rousseff e, após o encontro, divulgou nota negando qualquer irregularidade.

"Esclareço que jamais solicitei ou me foi oferecido qualquer meio de transporte privado em troca de vantagem na administração pública federal. Em 2010, quando era ministro do Planejamento, participei, nos fins de semana, feriados e férias, da campanha eleitoral do meu estado, Paraná. Para isso, utilizávamos aviões fretados pela campanha, o que incluiu aeronaves de várias empresas, que receberam pagamento pelo serviço", disse Paulo Bernardo, na nota.

O ministro repudiou insinuações de interesses da empreiteira, mas acrescentou que não tinha como ter controle dos detalhes dos voos, como o tipo de aeronave utilizada: "Não tenho, porém, condições de lembrar e especificar prefixos e tipos, ou proprietários, dos aviões nos quais voei no período".

O ministro argumentou que apenas cuidou dos interesses do estado ao defender, quando era deputado, projetos do Paraná. "Defendi a inclusão do Contorno de Maringá no PAC, assim como de outras obras prioritárias em outras regiões do país, por uma razão simples: eram importantes para o desenvolvimento daqueles estados, não porque iriam beneficiar esta ou aquela construtora", diz a nota.

Irritado, Paulo Bernardo repudiou a denúncia da "Época", afirmando que a publicação fez "ilações totalmente inverídicas". Segundo ele, a revista fez repetidas matérias citando a ele e a mulher, Gleisi, sem ouvi-los. "Este fato contraria os Princípios Editoriais das Organizações Globo que diz, na seção 2: "correção é aquilo que dá credibilidade ao trabalho jornalístico: nada mais danoso para a reputação de um veículo do que uma reportagem errada ou uma análise feita a partir de dados equivocados". E acrescenta: "Novamente a revista contraria outro item importante dos Princípios Editoriais das Organizações Globo que diz: denúncia anônima não é notícia; é pauta, mesmo se a fonte for uma autoridade pública: a denúncia deve ser investigada à exaustão antes de ser publicada." E encerra afirmando que é proibido perseguir a fonte porque ela se recusou a falar.

Já a ministra Gleisi, segundo nota da Casa Civil, informou que não utilizou "aviões de particulares/empresas no exercício do cargo público" e que, durante sua campanha, no ano passado, utilizou avião fretado, com contrato de aluguel.

Revista diz que esperou 40 dias por resposta

Em nota publicada ontem em seu site, a revista afirma que, "ao contrário do que afirma o ministro Paulo Bernardo, a "Época" procurou-o para ouvi-lo sobre todas as informações publicadas sobre ele nas quatro reportagens citadas. Em nenhuma delas, ele quis se manifestar, conforme registram e-mails enviados por sua assessoria".

A "Época" diz ainda que, durante 40 dias, procurou quatro vezes o ministro para ouvi-lo sobre a afirmação, feita por um parlamentar governista, de que ele embarcara em Brasília, em 2010, num avião da empreiteira Sanches Tripoloni. E que a assessoria do ministro sempre informou que ele não se pronunciaria sobre o assunto. "De modo independente, um outro parlamentar, da oposição, afirmou que a mesma aeronave fora usada na pré-campanha da ministra Gleisi Hoffmann", diz a nota da "Época", que afirma que, na semana passada, voltou a fazer a pergunta ao ministro e à ministra, sem obter resposta novamente.

"A espera de 40 dias por uma resposta mostra que não houve, da parte de Época, intenção alguma de perseguir o ministro. Durante toda a investigação que levou à publicação da reportagem, Época cumpriu os Princípios Editoriais das Organizações Globo", diz a nota da revista.

Construtora nega ter transportado autoridades

Em nota, a Construtora Sanches Tripoloni negou ter "transportado as autoridades em referência na aeronave King Air de prefixo PR-AJT ou em qualquer outra de sua propriedade". A nota diz ainda: "As doações a partidos políticos e a candidatos de diversos partidos e tendências realizadas pela Construtora Sanches Tripoloni foram feitas de forma oficial, de acordo com as normas vigentes e a legislação eleitoral brasileira e foram devidamente registradas no Tribunal Superior Eleitoral".