Título: Motorista assustado
Autor: Pereira, Daniel; Foreque, Flávia
Fonte: Correio Braziliense, 20/08/2009, Política, p. 5

Alana Rizzo

A rotina mudou em uma região de Taguatinga. Desde que a ex-secretária da Receita Federal Lina Maria Vieira afirmou que o motorista terceirizado que lhe acompanhou no encontro com a ministra Dilma Roussef era sua principal testemunha, todas as atenções e rodas de conversa se voltaram para o sobrado amarelo onde mora Warley. O ex-motorista da secretária vive com os pais, a irmã, a mulher e a filha pequena. É considerado pelos vizinhos um homem ligado à família e trabalhador.

¿Coitado. Jogaram ele no olho do furacão¿, disse um morador, que preferiu não se identificar. Warley estava desempregado há algum tempo e ficou satisfeito quando conseguiu o emprego na Delta Locação de Serviços e Empreendimentos Ltda., que presta serviço para a Receita Federal.

Assédio A família está assustada com o assédio da imprensa, que ligou durante todo o dia para a casa dele. ¿Não temos nada para falar¿, disse a irmã, que confirmou que Warley tinha ido trabalhar. O motorista vai tentar manter a rotina, mas está inseguro com o futuro. Teme que seja chamado para depor ou perca o emprego. ¿Ele não quer aparecer, porque não tem nada a ver com essa história.¿

Funcionário aplicado, ele se destacou e foi chamado para assumir um cargo de confiança em outro órgão público, que lhe renderia mais do que os cerca de R$ 1 mil que ganhava. Pediu demissão no início da semana. Na Delta, ninguém confirmava se Warley tinha se desligado da empresa. Na garagem da Receita, motoristas davam palpites sobre o encontro. ¿Pode ter ocorrido. Antes, a gente não anotava itinerários. Tem dois meses que somos obrigados¿, afirma um colega, que acredita que Warley não poderia ajudar muito: ¿Nunca sabemos qual é o assunto da autoridade e vamos constantemente para outros prédios públicos, inclusive a Casa Civil¿.