Título: Marina oficializa o adeus
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 20/08/2009, Política, p. 6

Ex-ministra do Meio Ambiente deixa o Partido dos Trabalhadores e abre caminho para o projeto de disputar a Presidência pelo PV

Em evento concorrido, senadora anuncia decisão de encerrar relação de quase 30 anos. Segundo ela, em busca de um Brasil ¿justo e sustentável¿

A saída da senadora Marina Silva (AC) do PT injetou um ingrediente de incerteza na campanha presidencial do ano que vem. Os tucanos festejaram, enquanto petistas e integrantes do núcleo da pré-candidatura da ministra Dilma Rousseff lamentaram. Para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Marina Silva sucumbiu a um desejo do governador de São Paulo, José Serra, pré-candidato do PSDB ao Palácio do Planalto ao lado do governador de Minas Gerais, Aécio Neves.

Ao anunciar a desfiliação, a senadora não quis falar sobre campanha, mas deixou no ar a possibilidade. Disse não ser saudável a polarização entre PT e PSDB, numa eleição plebiscitária como gostaria Lula. ¿A eleição tem dois turnos e espaço para muitas candidaturas¿, resumiu. A meta é preencher esse espaço no debate político com o chamado projeto de desenvolvimento sustentável, novo mote para as políticas de preservação do meio ambiente aliadas ao crescimento econômico.

Como é cautelosa, Marina deu apenas o primeiro passo para concretizar o projeto de renovação programática aliada ao sonho de uma candidatura ao Palácio do Planalto. Com a saída do PT, ela pode dar o segundo passo: pensar na filiação ao PV. Só depois disso tratará abertamente da corrida presidencial. Se a senadora age pausadamente, os ¿verdes¿, por sua vez, já preparam a filiação. O presidente da legenda, José Luiz Penna, espera que até a próxima semana ela assine a ficha.

Longa data

A saída do PT está nos planos de Marina desde que ela deixou o Ministério do Meio Ambiente. O convite do PV acabou sendo um catalisador. E a proposta de se lançar à Presidência, o estímulo para se aprofundar na agenda ambiental. O PT não gostou. ¿Ela se equivocou ao sair. A senadora Marina teria mais espaço para discutir as propostas para meio ambiente no PT, que tem capilaridade no país¿, disse o presidente do partido, Ricardo Berzoini. Mas nem por isso ele vai reivindicar o mandato dela na Justiça Eleitoral. Não quer Marina como vítima em processo já desgastante à campanha de Dilma Rousseff.

Na oposição, o tom era de comemoração. Para o deputado Edson Aparecido (PSDB-SP), Marina Silva representa a fragilização do projeto em torno de Dilma. ¿Ela também é mulher, tem discurso sólido na área do meio ambiente, que é algo que o PT tenta se mostrar como vanguarda, e atrai um voto mais jovem. Para nós, a saída dela foi ótima. Descaracteriza a estratégia de plebiscito que o presidente Lula queria na sucessão¿, disse Aparecido.

A senadora deixou o PT justamente por entender que o partido não dá espaço para discutir políticas de preservação do meio ambiente. ¿Faço uma inflexão necessária à coerência¿, explicou, em carta remetida a Berzoini. ¿É o momento não mais de continuar fazendo o embate para convencer o partido político do qual fiz parte por quase 30 anos, mas sim o do encontro com diferentes setores da sociedade dispostos a um Brasil justo e sustentável¿, emendou.

O PT também teme que a saída de Marina precipite outras desfiliações. O senador Flávio Arns (PT-PR), por exemplo, encaminhará consulta ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para saber se pode sair do partido sem perder o mandato.

Galeria de dissidentes José Varella/CB/D.A Press - 22/3/07 Luiza Erundina

Paulo H. Carvalho/CB/D.A Press - 26/7/06 Heloísa Helena

Helvio Romero/AE - 18/8/06 Cristovam Buarque

Bete Mendes A atriz fez parte da primeira bancada federal do PT, eleita em 1982. Foi expulsa do partido por ter votado em Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, em 1985. O PT havia proibido os membros de participarem da eleição.

Gilson Menezes Primeiro prefeito petista do Brasil, eleito em 1982 para administrar Diadema (SP), o ex-líder da primeira greve de metalúrgicos após o AI-5 deixou o partido depois de sair da Prefeitura devido a disputas políticas locais. Voltou a ser prefeito de Diadema pelo PSB (1997 a 2000) e hoje é vice-prefeito da cidade pelo PSC.

Luiza Erundina Deputada federal pelo PSB paulista, foi prefeita de São Paulo entre 1989 e 1992. Saiu do partido em 1997, depois de perder nova eleição para a prefeitura. A crise teve início em 1993, quando assumiu o Ministério da Administração do governo Itamar Franco sem consultar a legenda.

Vítor Buaiz Primeiro governador eleito pelo partido a deixar o PT, em 1997, depois de comprar briga com o funcionalismo público por causa da reforma administrativa. Ainda governador do Espírito Santo filiado ao PT, chegou a defender a reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Ingressou no PV.

Heloísa Helena Ex-senadora por Alagoas, foi expulsa do PT em dezembro de 2003, junto com os deputados federais Luciana Genro (RS), João Fontes (SE) e João Batista, o Babá (PA), depois de ter votado sistematicamente contra a orientação do governo. A gota d¿água foi o voto contra a Reforma da Previdência. O grupo fundou o PSol.

Fernando Gabeira Candidato pelo PT ao governo do Rio em 1986, saiu do partido para ser candidato a presidente da República, pelo PV, em 1989. Voltou ao PT, se elegendo deputado federal em 2002, e acabou deixando o PT novamente em 2003, criticando a política do governo Lula para o meio ambiente.

Cristovam Buarque Senador pelo PDT do Distrito Federal, deixou o PT em outubro de 2005 para ser candidato pelo PDT à Presidência da República. Foi ministro da Educação no primeiro mandato de Lula, e começou a se desentender com o governo depois de ter sido demitido do ministério por telefone durante viagem oficial a Portugal.

Soninha Francine Vereadora de São Paulo, eleita pelo PT em 2004, deixou o partido em 2007 para se candidatar à prefeitura de São Paulo, no ano seguinte, pelo PPS. Na carta de desfiliação, se disse desiludida com o partido depois das primeiras crises do governo Lula.