Título: Setor já reúne 1 milhão de trabalhadores
Autor: Oswald, Vivian; Valente, Gabriela
Fonte: O Globo, 28/08/2011, Economia, p. 35

Do total, cem mil são bancários aposentados. Sindicatos alertam para serviço precário

Vivian Oswald, Gabriela Valente e Letícia Lins

BRASÍLIA e CASINHAS (PE). Um exército estimado entre 800 mil e um milhão de trabalhadores pela Associação Brasileira dos Bancos (ABBC): os correspondentes já representam o dobro do contingente de 500 mil bancários do país. Segundo estudo inédito da entidade feito para O GLOBO, pelo menos cem mil destes são aposentados reabsorvidos.

- Os correspondentes geram empregos para uma camada da população que já não conseguiria se inserir no mercado - disse o presidente da ABBC, Renato Oliva.

Mas, para o sindicato dos bancários, os correspondentes significam a precarização do serviço e a destruição de postos de trabalho.

- O atendimento é precário, não tem estrutura de vigilância como os postos bancários e fragiliza a segurança dos dados dos correntistas - afirma o secretário de imprensa da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf), Ademir Wiederkehr.

Ele participou em Brasília, há duas semanas, do movimento de apoio ao projeto de lei do deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), que busca revogar a resolução do Banco Central (BC) que amplia as responsabilidades dos correspondentes. Berzoini diz que há hoje uma terceirização fraudulenta dos serviços bancários, pois é possível encontrar correspondentes a 50 metros de uma agência. E os correspondentes estão mais presentes nas regiões em que os bancários eram mais fortes: Sudeste e Sul. Wiederkehr vê ainda um fator de exclusão:

- Atende-se os pobres nos correspondentes e os ricos nas agências.

Em cidades pequenas do NE, dificuldade para sacar dinheiro

Quando o agricultor Sandoval Leal Barbosa, de 73 anos, precisa sacar mil reais - "muito dinheiro", para o padrão local - ele circula por Casinhas, a 132 quilômetros de Recife, para se informar sobre os depósitos feitos pelos mercadinhos na única lotérica do município, de apenas 14 mil habitantes. Às vezes a demora é tão grande que ele deixa o cartão com a funcionária da loja, para que ela faça o saque antes que o dinheiro acabe.

- Aqui todo mundo se conhece, e a funcionária da lotérica é de minha extrema confiança. Possui até minha senha. Passei para ela porque muitas vezes falta dinheiro em caixa. Quando chega, ela saca, avisa e eu venho buscar - conta Sandoval. - Não é tudo, mas é melhor do que nada.

- A cidade toda trabalha assim. Os moradores sabem que vou depositar e ficam na expectativa de realizar seus saques - diz Adeliane Barbosa de Almeida, dona do mercadinho Ponto Celpe, que recebe pagamentos de contas e permite saques.

Ela diz que os bancos não enviam dinheiro para os correspondentes, que "têm de se virar com o que circula na cidade". Por isso, muitos vão para municípios vizinhos.

Já o Supermercado Leal (na verdade, uma mercearia) tem um Bradesco Expresso, no qual é possível fazer saques, depósitos e pagamentos.

- O posto bancário quase não rende lucro e dá muito trabalho. Só tem uma compensação: o povo tira o dinheiro aqui e aqui mesmo deixa uma parte, fazendo comprinhas - diz a comerciante Anemary Barbosa Leal, que foi treinada pelo banco junto com sua funcionária, Maiara Flora Leandro.

O Bradesco não quis falar sobre o lucro dos comerciantes que abrigam o Bradesco Expresso. A lei não prevê a remuneração dos correspondentes pelos bancos. Mas a prática é pagar pelo número de transações e um percentual do crédito concedido.