Título: Quem fez o retrato falado foi meu filho
Autor: Duarte, Alessandra; Benevides, Carolina
Fonte: O Globo, 28/08/2011, O País, p. 3

Falta de dados aumenta sofrimento de parentes de desaparecidos

O site da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência é claro: "Embora não se possua dados consolidados, estima-se que dez mil ocorrências de desaparecimento de crianças e adolescentes sejam registradas anualmente nas delegacias de todo o país". Para tentar ajudar a solucionar esses casos, a Lei 12.127, de dezembro de 2009, propôs a criação de um cadastro nacional: a RedeSap.

Desde 2010 como parte do Ministério da Justiça, a RedeSap reúne dados passados pelos estados e esbarra na mesma dificuldade do InfoSeg: não é alimentada. De 1º de janeiro de 2000 a 26 de agosto de 2011, a RedeSap registra, no site, 559 desaparecidos e 644 encontrados. Pela assessoria, o ministério reconhece que os estados não enviam os dados. Diz ainda que o ministro José Eduardo Cardozo já visitou 15 estados para firmar um pacto que os obrigue a enviar dados, incluindo de desaparecidos. Quem descumprir, a partir de data ainda não estabelecida, terá verbas e convênios cancelados.

A falta de integração entre polícias, IMLs e hospitais angustia quem tem um parente desaparecido. Há cinco anos, Helena Elza da Silva, moradora do Rio, viu a filha pela última vez. Em julho de 2006, Maria Heloísa, com 9 anos, foi levada por um homem que fingiu ter combinado com Helena que iria buscá-la. Os pais descobriram após uma semana que ela tinha sido estuprada e morta.

- Quem fez o retrato falado do homem que a levou foi meu filho mais novo. Fomos ao IML e tinha um corpo desfigurado. Colhemos material para fazer exame de DNA. Extraviaram o exame, só fui ter o resultado seis meses depois. Minha filha morreu em julho de 2006 e só consegui enterrá-la em janeiro de 2007 - conta Helena.

Constatando que "nunca houve banco de dados de desaparecidos e aparecidos", o procurador do Ministério Público Estadual do Rio Pedro Borges criou o Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos (Plid).

- Existiam listas, mas sem tratamento da informação. Segundo o Isp (Instituto de Segurança Pública), de 12% a 16% dos desaparecimentos são caso de polícia. Então, a polícia não pode ser a única fonte de localização. Criamos o Plid, com parceiros como IML e Santa Casa. O MP capitaneia o programa e conta com o Disque-Denúncia - diz Borges, que quer apresentar ao ministério o modelo criado. - Nos últimos oito meses, resolvemos quase 400 casos.