Título: Grécia: dívida está fora de controle
Autor: Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 02/09/2011, Economia, p. 25

Comitê de especialistas do Parlamento diz que esforços têm sido em vão

ATENAS, AMSTERDÃ e BERLIM. O Comitê de Orçamento do Parlamento grego - um comitê de especialistas independentes, criado pelo Ministério da Economia em 2010 - afirmou ontem, por meio de comunicado, que a dívida externa da Grécia está "fora de controle" e que os esforços do Executivo para recuperar a situação econômica do país estão sendo em vão.

"O aumento da dívida, o elevado déficit primário (...) exacerbaram ao máximo as dinâmicas da dívida, que está agora fora de controle", destaca o texto. "Está claro que o problema do país não é apenas o tamanho da dívida pública, mas sua incapacidade para consolidar a gestão fiscal. Apesar dos grandes esforços feitos para conseguir um ajuste fiscal, não houve avanços e o déficit primário está se ampliando."

O ministro da Economia e vice-primeiro-ministro grego, Evangelos Venizelos, reagiu com um comunicado em que rechaçando as conclusões do informe. Ele afirmou que o documento "carece de elementos de credibilidade de outros informes de organismos internacionais", e assegurou que serão adotadas "todas as medidas necessárias" para melhorar a credibilidade dos trabalhos do comitê de especialistas.

A dívida grega está estimada em mais de 350 bilhões e o país já teve um segundo pacote de resgate aprovado por União Europeia e Fundo Monetário Internacional (FMI) no fim de julho.

Holanda acusa França e Alemanha pela crise

Já a Holanda acusou França e Alemanha de terem causado a crise orçamentária na zona do euro. Segundo o jornal "El País", o ministro holandês de Finanças, Kees de Jager, afirmou que as duas grandes economias da UE "abriram, em 2003/2004, as comportas, gerando os problemas atuais":

- Naquele ano, apresentaram um déficit orçamentário nacional que superava o limite de 3% estabelecido no Pacto de Estabilidade. A partir de então, outros países deixaram de acatar as normas fiscais.

Para De Jager, o mau exemplo dado por franceses e alemães não deveria ser repetido.

- Mostra falta de governabilidade. Também evidencia os problemas de não haver um órgão regulador independente para a zona do euro - disse ele, que, na semana que vem, vai se reunir em Berlim com seus colegas francês e alemão. - A Holanda está disposta a colaborar para frear a crise. Fazemos isso apesar das dificuldades derivadas das condições fiscais, e contando com a possibilidade de que talvez a Grécia não possa ser salva.

Por outra parte, o presidente do banco central alemão (Bundesbank), Jens Weidmann, defendeu uma "verdadeira união orçamentária" como uma solução para evitar que se repita a crise da dívida do euro.

- Uma opção é dar um passo na direção do abandono da soberania nacional nessa área - disse em Hannover.

Caso isso não seja possível, defendeu Weidmann, cada país deveria assegurar o equilíbrio orçamentário:

- Se não se quer ou não se pode avançar nessa direção (da união orçamentária), é necessário reforçar a disciplina das políticas fiscais nacionais.

O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da Alemanha desacelerou para 0,1% no segundo trimestre frente ao primeiro, informou o governo. A importação de energia pesou sobre o resultado, assim como o fato de os consumidores terem contidos seus gastos. No primeiro trimestre, a economia cresceu 1,3%.

Já a atividade manufatureira da zona do euro contraiu-se em agosto pela primeira vez em quase dois anos, em meio a fortes arrefecimentos na produção e nas novas encomendas. O índice Markit caiu para 49,0 em agosto, comparado a 50,4 em julho. Foi a primeira vez desde setembro de 2009 em que o indicador ficou abaixo da linha de 50, que divide a contração da expansão.