Título: Credibilidade e autonomia do BC em dúvida
Autor: Camarotti, Gerson; Batista, Henrique
Fonte: O Globo, 02/09/2011, Economia, p. 23

PALAVRA DE ESPECIALISTAS

Carlos Langoni - Ex-presidente do Banco Central

Carlos Thadeu de Freitas - Ex-diretor do Banco Central

O ex-presidente do Banco Central Carlos Langoni considera que o corte de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros na última quarta-feira "foi uma aposta ousada e arriscada", colocando em dúvida a credibilidade e autonomia da autoridade monetária questionável. Para ele, a deterioração do cenário externo não anula as pressões inflacionárias no Brasil, tornando o corte injustificável.

- Foi uma aposta ousada e arriscada, uma decisão precipitada. O nosso BC está mais pessimista que o Fed (o BC americano) - disse Langoni - Essa decisão coloca em dúvida a credibilidade e a autonomia do Banco Central, ingredientes fundamentais para gerenciar a expectativa da inflação.

Na opinião do economista, não há risco de uma crise global abrupta e aguda como a de 2008 e, no Brasil, apesar de alguma desaceleração na indústria, o setor de serviços e o agronegócio continuam pressionando a inflação. Langoni avalia ainda que o corte adicional de R$10 bilhões nos gastos públicos anunciado esta semana não é suficiente para compensar o crescimento da demanda interna.

- O mais prudente seria ter mantido a taxa e esperar a próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária). Com o corte, a inflação só vai convergir para a meta (de 4,5% ao ano) em 2013 - diz.

Já Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do BC, acredita que a instituição tomou uma decisão acertada, diante da nova crise global.

- O quadro externo está se deteriorando e a gente tinha gordura para cortar (a taxa de juros). Foi uma atitude preventiva. Não houve pressão política - diz ele, que prevê 6,1% de inflação e avanço do Produto Interno Bruto (PIB) de 3% a 3,5% em 2011.