Título: Analistas desconfiam de cortes
Autor: Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 02/09/2011, O País, p. 9

Governo não teria margem de manobra para austeridade fiscal

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SÃO PAULO. Os recentes sinais emitidos pelo governo de mudanças na política fiscal e a proposta de Orçamento para 2012 são vistos com desconfiança por analistas de mercado, que não veem consistência nesses movimentos para justificar que o país terá uma política de controle de gastos mais austera.

- Com todos os gastos já contratados, como o aumento do mínimo e das aposentadorias, que juntos consumirão R$27 bilhões a mais, além dos investimentos para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, vejo grandes dificuldades para o governo controlar gastos nos próximos anos. A margem de manobra é nenhuma - diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.

Thaís Marzola Zara, economista-chefe da Rosenberg Associados, avalia que até agora há apenas a sinalização de mais austeridade fiscal.

- O Orçamento não foi tão restritivo quanto se imaginava. Não tem um enfoque de queda de gastos contundente. É uma sinalização complicada - diz.

Em relatório divulgado ontem, assinado por seu economista-chefe, Ilan Goldfajn, o Itaú Unibanco afirma que "as intenções de mudança na política fiscal" foram uma das condições postas pelo Comitê de Política Monetária (Copom) para cortar os juros. E adverte que se essa política for mais expansionista haverá risco para a inflação.

O economista Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central, classifica a política fiscal do governo Dilma de colcha de retalhos:

- Teve o aumento de receita no saldo primário, que foi bem feito. Mas não tem corte de gastos efetivos e ainda tem o aumento do salário mínimo e das despesas da Previdência.