Título: Brasileiros em alerta
Autor: Couto, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 20/08/2009, Brasil, p. 14

Levantamento aponta que 20% da população adquiriram novos hábitos para se prevenir contra a doença. Quanto mais elevado o grau de escolaridade, maiores os cuidados

Dalva Matias é uma das pessoas que adotaram novos cuidados: telefone só para as visitas e recusa de convites para sair de casa

Presença constante em todos os jornais do país, noticiários de rádio e televisão e sites da internet, a Influenza A (H1N1), mais conhecida como gripe suína, está mudando a rotina dos brasileiros. Pelo menos 20% da população ¿ percentual que representa 25 milhões dos 130 milhões de adultos ¿ declararam adotar alguma medida ou mudaram de hábitos como precaução à enfermidade. Esse índice chega a 29% entre os moradores das capitais e 13% entre os das cidades do interior. Os dados integram uma pesquisa inédita do Instituto Análise/Insight à qual o Correio teve acesso.

Realizado de 25 a 31 de julho, em 70 cidades do país, incluindo o Distrito Federal e as outras 26 capitais, o levantamento ouviu mil pessoas acima dos 16 anos e de todas as classes sociais. Entre os que afirmaram mudar de hábitos, 69% admitiram lavar mais as mãos e 61% disseram evitar locais com grande aglomeração populacional. Outros 26% deixaram de frequentar hospitais. Quase toda a população (99%), de acordo com o estudo, já ouviu falar na doença e 3% conhecem alguém que já se infectou com a gripe suína.

Autor do estudo, Ricardo Contrera, diretor do Instituto Análise, observa que um dos objetivos é verificar se a doença já causa impactos econômicos no país. O aumento do hábito de lavar as mãos pode não interferir na cadeia produtiva, mas o fato de deixar de frequentar lugares, como ocorreu no México, pode alterá-la, explica. Se o clima de pânico aumentar freneticamente no país, haverá, com certeza, mudanças nos resultados, prevê.

Moradora da Asa Norte, a pensionista Dalva Matias de Paula, 79 anos, tem redobrado os cuidados para evitar a nova gripe: evita sair de casa e, quando vai às ruas, procura lugares com pouca aglomeração. Além disso, separa um aparelho telefônico para as visitas. Já era preocupada com higiene, mas, com essa doença nova, aumentei meus cuidados, afirma Dalva, que admite ter recusado um convite de colação de grau por conta da enfermidade. Não foi somente devido à gripe, mas pesou muito na decisão.

Outras conclusões Quanto mais elevado o grau de escolaridade, maiores os cuidados com a doença: 33% dos que tomaram alguma precaução têm nível universitário e 29% têm ensino médio. Entre os moradores das capitais e de áreas metropolitanas, 14% deixaram de viajar para algum local por causa da gripe suína. Questionados sobre as principais manifestações da enfermidade, os sintomas de febre e dores de cabeça foram citados, respectivamente, por 87% e 72% dos entrevistados. Apesar do alto nível de informação, 3% apontaram inchaço e manchas na pele como sintomas da doença. Dos brasileiros que adotaram novas medidas por conta da nova gripe, 34% são das classes A e B; 20% da classe C; e 10% das classes D e E. A maioria (28%) se concentra na região Sudeste e 24%, no Sul.

Atendimento estratégico

Diego Moraes

Para amenizar o sufoco nas emergências dos hospitais públicos, sobrecarregados com o aumento na demanda devido à gripe A (H1N1), conhecida como gripe suína, a Secretaria de Saúde vai montar postos estratégicos para atender apenas pacientes com sintomas da doença. O órgão decidiu ainda remanejar técnicos de enfermagem para que eles atuem na triagem dos pacientes, como forma de evitar aglomerações nas salas de espera dos hospitais.

As medidas, acertadas ontem à noite, estarão implementadas até a semana que vem. Os postos específicos para casos de gripe vão funcionar de segunda a sexta-feira e serão montados em pontos estratégicos do Plano Piloto, Ceilândia, Samambaia, Santa Maria, Taguatinga e Paranoá. Os técnicos da secretaria ainda analisam se esses postos serão montados dentro das unidades de saúde ou em tendas, nos locais onde há maior concentração de pessoas.

Na segunda-feira, 20 profissionais de saúde cedidos pela Polícia Militar, Corpo de Bombeiros e Polícia Civil também vão reforçar o quadro de servidores na rede pública de saúde. E com o remanejamento dos técnicos de enfermagem para o trabalho de triagem, o governo espera reduzir a superlotação nas emergências, já que os profissionais poderão orientar pacientes que não estão em estado grave a voltarem para casa. ¿A criação de postos só para atender gripe é uma medida adequada, digna de elogio¿, avalia o promotor Jairo Bisol, da Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde (Prosus) do Ministério Público do Distrito Federal (MPDF), que é favorável ao atendimento de gripados em unidades separadas.

O Corpo de Bombeiros começou ontem a entregar o Tamiflu, antiviral usado no tratamento da nova gripe. Como a distribuição é controlada, o medicamento será repassado a pessoas maiores de 12 anos que apresentarem receita, termo de dispensação do remédio e o formulário de notificação ¿ documentos repassados na hora da prescrição pelo médico.

A Secretaria de Saúde iniciou ontem um treinamento sobre a nova gripe para diretores das quatro faculdades de medicina da cidade. A ideia é que eles levem as informações para os internos ¿ alunos que estão no fim do curso e fazem estágio supervisionado nos hospitais. A subsecretária de Vigilância à Saúde, Disney Antezana, afirma que eles podem até reforçar o efetivo nas emergências. ¿Se houver necessidade, isso será avaliado. A ideia por enquanto é levar informação.¿

Novos endereços

O Tamiflu será distribuído 24 horas por dia pelo Corpo de Bombeiros nos seguintes locais:

1ª Companhia Regional de Incêndio (Setor Policial Sul, Bloco A, Asa Sul).

4º Batalhão de Incêndio (SGAN 916, próximo à

2ª DP, Asa Norte).

3ª Companhia Regional de Incêncio (Setor Norte, EQ 1/2, área especial, na avenida dos Bombeiros, Gama)

2º Batalhão de Incêndio (QNB AE 01, perto da praça do relógio, Taguatinga).

Povo fala

Você mudou algum hábito da sua vida por causa da gripe suína? Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press

Ivone Silva, 37 anos, vigilante, moradora de Santa Maria

"Com certeza. Passei a lavar as mãos com mais frequência, e não falta álcool em gel na minha bolsa. Quando entro num ônibus, coloco luvas e máscara. As pessoas acham engraçado, mas é uma doença perigosa e que pode matar."

Thiago Krawczyk, 25 anos, estudante, morador de Brazlândia

"Não me cuidado em relação a essa doença. Minha vida continua normal, e não tenho qualquer preocupação em lavar as mãos e passar álcool em gel. Acho um exagero tudo isso que estão falando sobre a gripe suína."

Fernanda Ribeiro, 25 anos, estudante, moradora do Guará II

"Sempre fui higiênica, mas, depois da gripe suína, aumentei meus cuidados. Na rua, não vejo as pessoas preocupadas em lavar as mãos com frequência ou evitar lugares muito movimentados. A maioria não está nem aí para a essa doença."