Título: Estagnação na indústria continua no 2º semestre
Autor: Durão, Mariana
Fonte: O Globo, 01/09/2011, Economia, p. 25

Produção cresceu só 0,5% em julho, após queda de 1,2% em junho. No ano, alta é de 2,9%

A produção industrial brasileira continuará estagnada no segundo semestre. O crescimento de 0,5% em julho ante o mês anterior, divulgado ontem pelo IBGE, não recuperou a perda de junho (-1,2%). Fatores como o alto nível de estoques, mais folga na capacidade instalada da indústria, queda da confiança e piora da economia global apontam para um desempenho ainda mais fraco do setor nos próximos meses. Como na crise de 2008, a indústria deve ter sido o maior freio no desempenho do Produto Interno Bruto (conjunto de bens e serviços produzidos no país) no segundo trimestre, número que será divulgado amanhã pelo IBGE. As projeções para o ano estão entre 1,4% a 2,5% , bem abaixo dos 10,5% de 2010.

De acordo com o IBGE, a atividade fabril recuou 0,3% frente a julho de 2010, após dois meses de resultados positivos. Com expansões cada vez menores desde desde outubro passado, a taxa acumulada em 12 meses retrata bem a desaceleração do setor: caiu a 2,9%, a menor desde abril de 2010. Em outubro, ficara em 11,8%. De janeiro a julho, a produção teve alta de 1,4%.

- A indústria está 2% abaixo do patamar mais elevado de produção da série histórica, atingido em março. O menor dinamismo tem relação com o aumento das importações, paralisações em alguns setores e efeito de medidas restritivas do governo (ao crédito) no fim do ano passado - explica André Macedo, gerente da pesquisa.

Importação reduz produção de insumos

Na comparação com o mês de junho, a produção cresceu em 14 dos 27 setores analisados, com destaque para edição e impressão (16,8%) - puxado por compras governamentais de livros - veículos automotores (4,3%), e alimentos (1,9%).

Entre as categorias de uso, apenas a de bens intermediários (insumos para indústria) teve queda no mês (-0,7%), afetada por paradas de produção em setores como celulose, refino e químicos. A produção de bens de consumo semi e não duráveis (roupas, alimentos, remédios) expandiu-se 3,8%, a de bens de consumo duráveis (carros, eletrodomésticos) 2,9% e a de bens de capital (máquinas e equipamentos) 1,7%.

Em relatório, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) alertou para o fraco desempenho dos intermediários, categoria de maior peso no setor (mais de 60%). Termômetro das compras feitas na indústria, sua produção cresceu apenas 0,6% até julho e 2,6% em 12 meses. O resultado inferior à média da indústria reflete a substituição do insumo nacional pelo importado, diz.

Crescimento no ano deve ficar pouco acima de 2%

O economista Thovan Tucakov, da LCA Consultores, reduziu de 3% para 2,5% (podendo reduzir ainda mais) sua projeção para a atividade industrial em 2011. Ele espera um desempenho modesto na segunda metade do ano, baseado no acúmulo indesejado de estoques, queda de confiança e do nível de utilização da capacidade instalada captados pelas últimas sondagens de Fundação Getulio Vargas (FGV) e Confederação Nacional da Indústria (CNI):

- Esse conjunto associado à incerteza na economia gerada pela crise internacional deve levar à redução mais acentuada da produção, de contratações e postergação de investimentos - disse Tucakov.

Para os analistas, a participação da indústria na redução da atividade econômica será mais significativa nos últimos meses do ano do que no PIB do segundo trimestre.

- Embora os serviços tenham maior peso (67,4%) no PIB, a indústria (26,8%) imprimirá a maior contribuição negativa neste semestre - disse Tatiana Pinheiro, economista do Santander.

O banco projeta alta de 0,9% do PIB no segundo trimestre, frente aos três primeiros meses do ano, um desempenho ainda forte. No ano, a expectativa é de que o país cresça 3,7%. Para a produção industrial, o Santander tem a projeção mais pessimista: crescimento de 1,4%, ante 3% previstos no início do ano.

Para o economista-chefe da Prosper Corretora, Eduardo Velho, a indústria e a economia em geral estão em uma desaceleração lenta, incapaz de um impacto significativo sobre a inflação. Ele cita o índice de difusão - percentual de atividades com expansão superior a 10% - como exemplo da redução gradual da atividade: ele saiu de 28,7% em junho, para 24,4% em julho.