Título: Cheque especial para os hermanos
Autor: Bacncillon, Deco; Gonçalves, Daniel
Fonte: Correio Braziliense, 20/08/2009, Economia, p. 18

Acordo garante linha de crédito em moedas locais para aquecer o comércio entre os dois países

Guido Mantega e Amado Boudou apostam que o entendimeno o beneficiará pequenos e médios empresários

As relações comerciais entre Brasil e Argentina saíram do campo das desavenças. Ontem, os ministros responsáveis pelas economias dos dois países acertaram um empréstimo em moeda local (swap cambial), que terá remuneração atrelada ao juro básico de cada economia. Pelo acordo, cada país colocará à disposição do outro US$ 1,8 bilhão, em moeda local. Assim, o Brasil oferecerá à Argentina o equivalente a R$ 3,5 bilhões e o país vizinho entrará com 7 bilhões de pesos.

¿É como um cheque especial, que poderá ser utilizado como linha de crédito, caso haja interesse do país¿, explicou o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Nas palavras do ministro da economia da Argentina, Amado Boudou, o empréstimo ¿é um passo importante para melhorar o comércio em moedas locais, que hoje é muito pequeno. Mas poderá ser uma alternativa importante aos pequenos e médios empresários.¿

Bom momento

O acordo entre o Brasil e a Argentina saiu em um momento favorável para a América Latina. De acordo com o Índice de Clima Econômico (ICE) na região, divulgado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) em parceria com o Institute for Economic Research at the University of Munich, o Brasil apareceu como o segundo país com clima favorável para negócios, com 5,5 pontos, atrás apenas do Peru, com seis pontos. Foi a primeira vez, neste ano, que o Brasil superou a casa dos cinco pontos, mostrando que empresários e consumidores estão mais confiantes no futuro da economia e que o pior da crise mundial ficou para trás. A pesquisa é feita em 16 países com a participação de 149 especialistas.

O Índice de Expectativa (IE), em julho, subiu para 6,6 pontos, o maior valor desde julho de 2007. Para Lia Valls Pereira, coordenadora do Centro de Estudo do Setor Externo do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da FGV, os números são bastante expressivos. Países como Estados Unidos e Japão apresentam resultados abaixo do nível favorável. ¿Houve uma melhora nos índices dos países desenvolvidos. Entretanto, ainda há fatores desfavoráveis nessas economias, o que não se observa no Brasil¿, comentou.

O IEC da América Latina teve ligeira alta de 0,4 ponto em julho, chegando a 4 pontos. Apesar do número não ser favorável (acima de 5), a tendência é que nos próximos meses a economia dos países que apresentaram o Índice da Situação Atual (ISA) melhore, elevando o ICE. ¿Podemos observar pelos números que o Índice de Expectativa da América Latina cresceu nos últimos trimestres, chegando à casa dos 5,5, nível favorável pelos critérios da pesquisa¿, disse Valls. Ela chama a atenção para alguns detalhes. ¿O Brasil é um dos principais responsáveis pela melhora nos índices alcançados pela América Latina.¿