Título: Uma videoteca de corrupção
Autor: Braga, Isabel; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 31/08/2011, O País, p. 3

Mal completou seu primeiro mês como deputada federal estreante, Jaqueline Roriz entrou na galeria dos parlamentares sob suspeita. Em 4 de março deste ano, o operador do chamado mensalão do DEM, Durval Barbosa, divulgou vídeo que documentava o momento, na campanha de 2006, em que ele dava R$50 mil à filha do ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz, na época, candidata a deputada distrital, e ao marido dela, Manoel Neto.

O mensalão do DEM se tornou conhecido no fim de 2009, com a operação Caixa de Pandora, da PF. Tratava-se de um esquema de arrecadação e pagamento de propina que seria comandado pelo então governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (à época no DEM). Em troca do benefício da delação premiada, Durval Barbosa aceitou colaborar com a polícia. E foi assim que o país ficou conhecendo a inacreditável coleção de gravações feitas por Barbosa. Num dos vídeos, Arruda recebe R$50 mil de Barbosa. A gravação é de da campanha de 2006, quando Arruda se candidatou ao governo do DF.

A divulgação dos vídeos resultou na queda de Arruda e do ex-vice-governador Paulo Octávio e na perda de mandato de cinco deputados distritais. Várias cenas tiradas dos vídeos de Barbosa entram facilmente em qualquer antologia de flagrantes de corrupção. Numa delas, o então presidente da Câmara Legislativa do DF, Leonardo Prudente, aparece guardando pacotes de dinheiro nas meias e nos bolsos. Outra que chocou o público foi a da ex-deputada Eurides Brito colocando o dinheiro numa bolsa. Por conta do vídeo, ela teve seu mandato cassado. Outro vídeo mostrava o empresário Alcyr Duarte Collaço Filho, dono de um jornal local, escondendo os maços na cueca. E uma gravação exibia o deputado distrital Júnior Brunelli liderando a chamada "oração da propina", tendo ao lado Durval Barbosa e Leonardo Prudente. Tanto Prudente como Brunelli renunciariam a seus mandatos.

O vídeo de Jaqueline foi o 31º divulgado por Barbosa. As imagens mostram desde o instante em que Jaqueline e Manoel Neto entram na sala de Barbosa. Pouco depois, Neto pega os maços de dinheiro postos na mesa por Barbosa. Jaqueline se mostra insatisfeita com o valor do pacote (R$50 mil):

- Você vai me ajudar com alguma coisa de estrutura, não é? - pede a Barbosa.

- Você não tá vendo isso aí, não? - responde o operador do esquema, apontando para o dinheiro, que Manoel Neto acabara de guardar numa mochila.

- Você tem a possibilidade de aumentar isso pra mim ? - pede ela.