Título: Dilma defende ações anticorrupção; Lula se cala
Autor: Vasconcelos, Adriana; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 03/09/2011, O País, p. 11

Ex-presidente não tocou no assunto na abertura de congresso do PT, que recebeu Dirceu aos gritos de "guerreiro do povo"

BRASÍLIA. Aos gritos de "Dirceu, guerreiro, do povo brasileiro", o ex-ministro e deputado cassado José Dirceu foi aplaudido de pé na chegada ao auditório, na abertura oficial do IV Congresso Nacional do PT, ontem à noite, em Brasília. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não falou em corrupção, minimizou as crises da base e fez uma referência à reeleição da presidente Dilma Rousseff. E aproveitou para avisar que apoia moção em defesa de Dirceu. Bastante aplaudida, Dilma, por sua vez, defendeu o combate à corrupção.

Num discurso de 35 minutos, Dilma rebateu críticas de que, enquanto ela faz uma faxina no governo, Lula foi conivente com a corrupção:

- O povo brasileiro é um povo trabalhador, um povo sério que não gosta do malfeito. Temos o compromisso republicano e inarredável de lutar contra a corrupção. É um compromisso ético. Os recursos são públicos e não privados. Repudio aqui o esquecimento de ações do governo Lula contra malfeitos - disse Dilma.

A presidente condenou, porém, a "espetacularização" das ações:

- Acredito na Justiça e acredito que a Justiça não se faz com caça às bruxas nem com colocação de pessoas à execração pública. Ações espetaculares, geralmente, expõem as pessoas e acabam com a presunção da inocência - disse ela.

Dilma também rebateu as avaliações de que está tentando se afastar de seu antecessor e que ela recebeu uma herança maldita. Lembrou que ocupou um cargo importante no governo Lula - a chefia da Casa Civil - e, por isso, os erros e os acertos da administração passada são dela também:

- Eu vejo muitas vezes tentarem dizer na imprensa que eu, que me elegi presidente baseada na trajetória deste partido, no sucesso do governo do presidente Lula, tenho uma herança que não é bendita. Essa tentativa solerte, às vezes envergonha e enciumada, tenta esconder uma das maiores conquistas dos últimos anos: nós mudamos a forma do Brasil se desenvolver - afirmou Dilma.

Ela fez um discurso veemente sobre defesa dos direitos humanos e sua disposição de criar a Comissão da Verdade e rechaçou a pecha de que é inábil ao fazer política.

- Dizem que sou inapta para a política, mas tenho orgulho de ter feito política quando havia risco de ser morta ou presa - disse Dilma.

Também citou Lula, ao revelar um conselho dele:

- Quando a razão não está clara, decida com o coração.

Na rápida passagem pelo encontro, Lula admitiu que, pela primeira vez, ao iniciar um pronunciamento, não sabia o que dizer, temendo se meter nas questões internas do partido ou do governo. Mas, rapidamente, recobrou a verve: primeiro, criticando a imprensa, e, depois, manifestou solidariedade a Dilma, defendendo a sua reeleição:

- Ninguém pode cobrar de você, Dilma, o que você não teve tempo de fazer. Ainda mais uma pessoa que vai governar quatro, oito anos.

Sob os aplausos da plateia, o ex-presidente Lula criticou a imprensa, reclamando que ela gosta de pôr na sua boca o que ele nunca disse:

- Eu li num jornal que ia ter uma nota de apoio ao José Dirceu com o meu aval. É mentira, porque não disse isso. Mas, já que estou aqui, vou dar o meu aval. Não é possível essas pessoas escreverem tanta mentira - reclamou.

Chamado de "professor" pelos militantes, o mensaleiro Delúbio Soares, ex-tesoureiro do partido, tentou passar despercebido e fugiu dos jornalistas. Já a ministra de Relações Institucionais Ideli Salvatti foi anunciada pela locutora oficial como "leoa de chácara!"

Em seu pronunciamento, o presidente do PT, Rui Falcão, cobrou medidas mais ousadas para a redução dos juros e deu um recado público a Dilma:

- Seu governo tem e terá sempre o nosso total apoio.