Título: Sem gestão eficiente, mais dinheiro não resolve
Autor: Suwwan, Leila
Fonte: O Globo, 03/09/2011, O País, p. 10

Especialistas em Saúde mostram que grandes melhorias, como fim do desperdício, custam pouco ou quase nada

SÃO PAULO. Especialistas do setor de Saúde concordam com a presidente Dilma Rousseff de que a Saúde Pública precisa de mais recursos, mas apontam a possibilidade de grandes melhorias que custam pouco, ou quase nada, especialmente na gestão hospitalar: o fim do desperdício e da ineficiência. Essa lição, aliás, já foi comprovada pelo "guru" do governo em matéria de gestão, Jorge Gerdau.

O empresário preside a Câmara de Gestão de Desempenho e Competitividade, e já está mudando a rotina de cerca de 250 hospitais filantrópicos. O projeto-piloto salvou a Santa Casa de Porto Alegre da ruína financeira e a transformou em referência hospitalar. O segredo foi a profissionalização da gestão, com sistemas de metas, processos e acompanhamento semelhantes aos do mundo empresarial.

Um levantamento do Banco Mundial, de 2009, compilado no livro "Desempenho hospitalar no Brasil", mostrou que 30% das internações foram de casos que não requeriam atenção hospitalar, gerando um custo desnecessário de R$10 bilhões, a maior parte na rede pública.

- Reconheço que falta dinheiro, mas acho que primeiro temos que fazer o dever de casa para legitimar essa demanda. Fizemos um trabalho com 50 hospitais, e o resultado é uma economia anual de R$44 milhões. Somente no controle das internações, um dos nove procedimentos para os quais damos consultoria, a economia foi de R$27 milhões - disse Luiz Pierry, secretário-executivo do Programa Gaúcho da Qualidade e da Produtividade.

- É um choque de gestão de quatro meses. São questões simples porque há muito amadorismo na Saúde Pública, muito dinheiro direto na lata de lixo - completou Pierry.

Política e burocracia são entraves

Para o professor Gonzalo Vecina Neto, da Faculdade de Saúde Pública da USP, não é possível dizer que o dinheiro deve vir depois de uma arrumação administrativa. Para ele, ambos são necessários, importantes e urgentes.

- Falta dinheiro e falta gestão. Isso não é cartesiano. É um simplismo querer colocar em uma ordem. Tem várias formas de financiar, e essa questão é política. Mas, na gestão, a solução é autonomia. O gestor público não tem. Fica submetido aos mesmos problemas de sempre da política, da burocracia e da corrupção.

Para o professor Walter Cintra Ferreira, do Centro de Estudos em Saúde da FGV/Eaesp, o SUS está avançando, precisa de mais recursos, mas a experiência com novas fórmulas de gestão mostra resultados.

- O país tem serviços precários, mas também tem referências, como o Hospital do Rim, ligado à Unifesp, que é líder mundial em transplantes renais - disse Ferreira. O segredo também está ligado à gestão. O hospital é ligado a uma fundação, que tem autonomia administrativa e financeira.