Título: BC fez bem em não repetir erros do passado
Autor: Melo, Liana
Fonte: O Globo, 11/09/2011, Economia, p. 31

Economista da UFRJ diz que meta não foi abandonada

Apesar de todas as críticas, o Brasil continua ostentando a medalha de ouro na categoria taxa de juros mais alta do mundo: 12% ao ano. Antes da decisão polêmica do Copom, era a inércia do Banco Central em baixá-la que era motivo de polêmica. O que fez o BC, por mais de uma vez, ser acusado de perder uma oportunidade histórica de reduzir os juros em 2008. A instituição só reagiu quando o nível de atividade econômica já tinha despencado, no começo de 2009.

- O BC fez muito bem em não repetir os erros do passado - avalia Luiz Carlos Prado, representante do pensamento keynesiano na Faculdade de Economia da UFRJ, elogiando a atuação do governo, que, ao contrário da gestão passada, vem conseguindo manter vivo o diálogo entre o BC e o Ministério da Fazenda. - Mesmo depois da redução, os juros continuam altíssimos e não há qualquer indicação de que o governo tenha aberto mão da meta de inflação. Isto é um falso dilema.

Queda de juros não vai alimentar inflação

Prado está convencido de que a projeção feita pelo governo de que a inflação entrará numa trajetória declinante está "corretíssima". Ele não está sozinho na sua posição. Alguns economistas, como é o caso de Paulo Nogueira Batista Júnior, diretor no Fundo Monetário Internacional (FMI), também concorda com o cenário projetado pelo governo e usado como justificativa para baixar os juros.

E aproveitou para escrever em artigo que "abriu-se uma oportunidade para corrigir o mix de políticas monetária e fiscal no Brasil, um problema antigo que causa distorções importantes". E continuou afirmando que "com a Fazenda e o BC atuando de maneira coordenada, essa oportunidade pode ser aproveitada com grandes benefícios para o desenvolvimento do país, notadamente a superação do custoso binômio juro alto/câmbio sobrevalorizado que nos atormenta há décadas".

Assim como Batista, Prado concorda que a inflação tem outros canais de contágio, além dos juros baixos:

- Além do mais, o efeito da queda dos juros não é imediato na economia. Seu efeito é defasado.

Com o agravamento da crise internacional, a economia doméstica já começou a desacelerar, diz Prado. Ele aposta que este processo vai continuar, o que joga por terra, a seu ver, o dilema de que o governo teria abandonado o regime de metas:

- A valorização da taxa de câmbio é uma fonte de preocupação maior do que é a inflação. Concordo com o governo quando ele diz que a inflação vai convergir para a meta em 2012. Liana Melo