Título: O dilema entre inflação baixa e crescimento
Autor: Melo, Liana
Fonte: O Globo, 11/09/2011, Economia, p. 31

Guinada do BC põe economistas em campos opostos e alimenta debate sobre a política monetária do país

LOYOLA, ex-BC: longe da meta

PRADO: sem os medos do passado

liana.melo@oglobo.com.br

E os juros começaram a cair .... A guinada dada pelo Comitê de Política Monetária (Copom), que trocou, na reunião do fim de agosto, a tendência de alta pelo corte efetivo de juros, foi apenas o começo. Na última quinta-feira, ao divulgar a ata do Copom, com explicações detalhadas sobre a reunião, o governo sinalizou com novas quedas, ainda que "moderadas". A decisão de baixar os juros na última reunião e as explicações dadas a posteriori não foram suficientes para tirar o Banco Central do alvo e acabar com a saraivada de críticas.

Membros da academia, agentes de mercado e economistas se dividiram nas opiniões a favor e contra a redução de 0,50 ponto percentual na Selic, que está agora em 12% ao ano. É difícil encontrar algum tipo de convergência nas análises, por exemplo, dos economistas Gustavo Loyola e Luiz Carlos Prado. A discussão colocou-os em campos opostos. É que a guinada dada pelo Banco Central acabou alimentando o dilema de que o governo estaria abandonando o regime de metas de inflação em prol de garantir, em contrapartida, o crescimento econômico do país.

Divergências entre ex-Banco Central e ex-Cade

Se para Loyola, ex-presidente do Banco Central e hoje sócio da Tendências Consultoria, o banco errou feio; para Prado, ex-conselheiro do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e hoje representante do pensamento keynesiano na Faculdade de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a ousadia da instituição foi digna de palmas.

- O maior erro do banco foi não admitir traçar uma trajetória mais longa para a convergência da inflação. Faltou transparência - afirma Loyola, criticando o diagnóstico do governo de que a inflação vai convergir para a meta (de 4,5%) em 2012. - Acho bem difícil que isso ocorra no próximo ano.

O banco, a seu ver, não chegou a expressar claramente o desejo de abandonar o regime de metas de inflação:

- Mas é inegável que o governo passou a dar um peso bem maior ao crescimento.