Título: Para economistas e empresários, infraestrutura ainda é um gargalo
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 11/09/2011, Economia, p. 28

Sugestão é criar política para atrair pequenas empresas em diversas áreas

BRUNO PARREIRAS, que acaba de abrir escritório no Rio, diz que é preciso mais investimento em transporte

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Apesar dos investimentos que o Rio de Janeiro vem recebendo, economistas e empresários lembram que ainda é preciso vencer uma série de desafios para garantir à sede das Olimpíadas de 2016 um desenvolvimento sustentável. Especialistas ressaltam a necessidade de melhorias para superar gargalos, como infraestrutura, educação e saúde.

Mauro Osório, professor da UFRJ e doutor em Planejamento Urbano e Regional, diz que é preciso estimular a geração de políticas para desenvolver setores onde há potencial de investimento:

- Em Caxias, por exemplo, temos a Rio Polímeros. Hoje, a empresa já produz a plena carga. No entanto, ainda existem poucas empresas de plástico instaladas no seu entorno. Deve-se buscar uma coordenação de políticas que ofereça local para as empresas se instalarem com infraestrutura de telecomunicações, esgoto e água, além da logística de acesso. Todos os investimentos ainda têm de estar subordinados a uma estratégia de coordenação pública, como preservação ambiental.

Há ainda o investimento em transportes, hoje um gargalo para o desenvolvimento, diz Osório. Ele ressalta que é preciso olhar a estrutura aeroportuária e portuária de forma integrada:

- Qual é o papel dos diferentes aeroportos e portos no Rio? Deve-se, por exemplo, melhorar o transporte de massas sobre trilhos, entre as zonas Oeste, suburbana e central.

Transporte é uma demanda lembrada pelos empresários. A empresa portuguesa de tecnologia WTvision acaba de investir R$800 mil no Rio na abertura de um escritório. Segundo Bruno Parreiras, diretor para América do Sul, a companhia escolheu o Rio devido ao seu atual crescimento. Porém, o empresário destaca que o desafio hoje é criar uma rede maior de transporte:

- No ano passado, abrimos no Rio para explorar as oportunidades no Brasil e na América do Sul. Montamos uma estrutura local. Como há crescimento, o mercado está buscando inovação, e os projetos começam a aumentar. Copa e Jogos estimulam o crescimento, atraindo estrangeiros. Mas é preciso que o transporte não fique limitado à Zona Sul. Além disso, deve haver mais espaços comerciais na cidade e um trabalho maior nas faculdades para gerar mais mão de obra qualificada.

Economista diz que Rio deve investir mais em turismo

Hildete Pereira de Melo, professora de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF), que também destaca a falta de investimento em infraestrutura, lembra que o setor turístico merece mais atenção.

- O que se pode pensar ao ver o bonde de Santa Teresa do jeito que está? Ou, então, cartões postais como o do Cosme Velho abandonado? O Rio precisa ir além do polo do petróleo e de serviços. Precisa efetivamente se transformar em um polo histórico turístico, melhorando a condição das ruas, por exemplo. Cuidar do visual é vital para que o sentimento de que vai dar certo seja vitorioso.

Pensamento semelhante tem Celso Campos, professor de Engenharia de Serviços da UniRio e de cursos na Universidade Cândido Mendes. Segundo ele, o desenvolvimento só será sustentável se os moradores perceberem no dia a dia as melhorias nas ruas e nos hospitais, já que não há uma rede preparada para atender à população:

- Só se muda fazendo perceber. Hoje estamos caminhando para obras feitas de última hora, em uma festa para poucos. Ou seja, a preparação de um cenário, que vai acabar no dia seguinte. Ainda não vejo melhora.

Do outro lado, há quem não concorde. Thiago Silveira, gerente para o setor de Energia da Rio Negócios, agência de atração de investimento do Rio de Janeiro, ressalta que estão sendo feitos investimentos de US$8 bilhões em infraestrutura, como o metrô, os Bus Rapid Transit (BRTs) e a reconfiguração da SuperVia. Ele ressalta que a criação de tecnologia no estado, com a implementação de centros de pesquisa, é crucial para perpetuar o desenvolvimento a longo prazo.

- As empresas que estão vindo para o Rio já têm uma percepção de que a cidade está avançando - diz Silveira.

Os pleitos são extensos. A WeDo Technologies tem no Rio o maior escritório fora de Portugal, onde está a sua sede. Após investir R$1 milhão em ampliações na cidade, a empresa planeja dobrar de tamanho até 2015.

- O Rio ocupa posição central como polo de desenvolvimento. O principal entrave é a alta carga tributária - diz Bárbara Gurjão, gerente de Marketing da WeDo.