Título: MP denuncia Macedo por lavar dinheiro de fiéis
Autor: Roxo, Sérgio
Fonte: O Globo, 11/09/2011, O País, p. 9
Outros três integrantes da Universal são acusados de formação de quadrilha e de mandar recursos ilegalmente para o exterior
SÃO PAULO. O Ministério Público Federal em São Paulo denunciou o bispo Edir Macedo e mais três dirigentes da Igreja Universal do Reino de Deus, acusados de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro arrecadado dos fiéis. De acordo com a investigação, o grupo teria utilizado os serviços de uma casa de câmbio de São Paulo para mandar recursos de forma ilegal para os Estados Unidos, entre 1999 e 2005.
Os frequentadores da Universal seriam, segundo a denúncia, vítimas de estelionato. Os denunciados são acusados de só declarar à Receita parte dos recursos arrecadados com doações.
Em 2009, o Ministério Público Estadual de São Paulo chegou a apresentar denúncia contra Macedo e oito dirigentes da Igreja por lavagem de dinheiro, mas o Tribunal de Justiça do estado anulou o processo, em outubro de 2010, porque entendeu que a investigação deveria ser remetida para a Justiça Federal.
A nova denúncia foi apresentada no dia 1º de setembro pelo procurador da República Sílvio Luís Martins de Oliveira e utiliza fatos que foram levantados pela investigação do Ministério Público Estadual. Para o procurador, os "pregadores valem-se da fé, do desespero ou da ambição dos fiéis para lhes venderem a ideia de que Deus e Jesus Cristo apenas olham pelos que contribuem financeiramente com a Igreja e que a contrapartida de propriedade espiritual ou econômica que buscam depende exclusivamente da quantidade de bens materiais que entregam".
O trecho de pregação de um pastor é citado para exemplificar a "agressiva política arrecadatória" da Universal: "Você vai fazer o cheque aí agora (?) Ou pegar todo o salário que você recebeu hoje, todo o salário.(...) É sacrifício. Se não for sacrifício, nem sobe aqui. Você vai perder tempo (?) Se for para fazer apenas uma tentativa, então, pega o dinheiro e joga no bicho, joga na Loto, joga na Sena, mas não faz, não dá aqui, não, porque não vai acontecer nada. Tem que ser sacrifício verdadeiro. Porque Deus é verdadeiro."
Baseada em depoimento de ex-fiéis, a denúncia fala em práticas "ardilosas" utilizadas pela Igreja Universal. É citado o relato de uma mulher que contou que o filho doava todo o salário mensal e andava diariamente três horas a pé até o trabalho por não ter dinheiro para a condução.
Doleiros, ex-proprietários da Diskline Câmbio e Turismo, contaram ao Ministério Público Federal que o dinheiro arrecadado dos fiéis seria levado à casa de câmbio em carros da Igreja protegidos por segurança da instituição. As notas muitas vezes estavam "amassadas, rasgadas, coladas com durex, suadas e rabiscadas", de acordo os depoimentos. Por causa da grande quantidade, cofres eram alugados em agências bancárias próximas à casa de câmbio. Os doleiros se encarregariam de transferir o dinheiro para contas bancárias nos Estados Unidos.
Dinheiro era remetido para paraísos fiscais
Um doleiro chegou a descrever uma conversa ocorrida em Nova York, em 1997, em que Edir Macedo lhe pediu que estudasse outras formas de realizar operações para mandar dinheiro para o exterior que tivessem "ar de legitimidade".
A investigação se valeu também do depoimento registrado em cartório por Waldir Abrão, ex-diretor da Universal e ex-vereador no Rio, seis dias antes de ser morto em 2009. Ele declarou que as doações de fiéis eram entregues diretamente na tesouraria da instituição e que só 10% da quantia eram depositados na conta da Igreja. O restante era remetido, de acordo com Abrão, por doleiros para o Uruguai e outros paraísos fiscais. As circunstâncias da sua morte ainda não foram esclarecidas.
Apesar de os denunciados só poderem responder por ilegalidades praticadas a partir de 1998, quando o crime de lavagem de dinheiro foi tipificado no país, o Ministério Público cita em sua denúncia episódios como a montagem pela Universal de offshores nos paraísos fiscais das Ilhas Cayman e Jersey nos anos 1991 e 1992. Doleiros a serviço da Igreja converteriam o dinheiro recebido dos fiéis em dólares depositados em contas das offshores nos Estados Unidos. Em seguida, esse dinheiro seria reconvertido em moeda brasileira para ser emprestado a diretores da Igreja, que compraram empresas de comunicação.
COLABOROU Silvia Amorim