Título: A brecha que Marta esperava
Autor: Rothenburg, Denise; Lima, Daniela
Fonte: Correio Braziliense, 21/08/2009, Política, p. 2

Com o desgaste político de Mercadante, ex-prefeita já é cotada para o Senado

Movimento de petistas paulistanos de levar Marta ao Senado no próximo ano ganha força com enfraquecimento interno de Mercadante

A postura independente de Aloizio Mercadante (PT-SP) durante a crise do Senado pode custar ao petista mais do que a liderança da bancada na Casa. Adversários políticos do senador dentro da legenda paulista aproveitaram o desgaste político de Mercadante com seus pares e inflaram uma campanha para que ele fique fora da disputa por uma das duas vagas que o estado terá que preencher na Casa em 2010.

O nome defendido pelos que encabeçam essa negociação é o da ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy, que tomaria a vaga de Mercadante na briga pela preferência do eleitorado. Algumas declarações públicas já dão tom à crise interna que abateu o diretório paulista do PT. ¿Essa do Mercadante renunciar à liderança do PT é um gesto nobre do senador. Parece que o próximo passo é não concorrer ao Senado. É coerente¿, publicou o deputado Jilmar Tatto (PT-SP) em seu Twitter, na tarde de ontem.

Essa tentativa de colocar um nome tão forte quanto Mercadante na disputa pelo Senado é anterior à crise que abalou a permanência de José Sarney (PMDB-AP) na presidência da Casa. Mas, desde a última quarta-feira, quando Mercadante contrariou a determinação do presidente nacional da legenda, Ricardo Berzoini, de defender a posição do partido pelo arquivamento dos processos contra Sarney, esse movimento no sentido de colocar Marta na chapa ao Senado ganhou fôlego.

A corrente de Tatto defende a premiação da lealdade de Marta com uma candidatura ao Senado, até pelo fato de ela ter aceitado encabeçar uma disputa (1)à prefeitura de São Paulo contra Gilberto Kassab no ano passado. Marta, de início, não queria ser candidata nas eleições municipais. Pelo partido, partiu para o sacrifício, para defender o governo Lula. ¿Ou você está com o governo, ou você não está. Ele (Mercadante) não é mais o queridinho da militância. O eleitor vai ficar do lado de quem defende o governo e o presidente Lula¿, comentou um deputado petista.

Uma saída em estudo no PT seria oferecer a Mercadante a disputa por outro cargo, como o governo de São Paulo. O problema é que essa opção seria vista como um castigo, já que as pesquisas apontam o PSDB como favorito para continuar no comando do estado que tem o segundo orçamento do país, só perdendo para a União. Além disso, o presidente Lula e a cúpula do PT listam outros nomes para a disputa estadual. O deputado Antônio Palocci, o ministro da educação Fernando Haddad e a própria Marta são cotados. Além do deputado Ciro Gomes (PSB-CE), que teve uma possível candidatura ventilada, com o apoio de Lula, mas não quer concorrer ao governo paulista.

Paralelamente às negociações para ver quem será candidato ao governo, cresce a disputa pelas vagas ao Senado na chapa petista. Além do grupo de Marta, o PCdoB também já se apresentou para uma parceria com o PT nesse espaço: ¿Eu sou pré-candidato ao Senado nessa chapa¿, disse ao Correio o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo. Se dependesse de Mercadante, ele escolheria Rebelo. E, ciente de todo esse movimento de Marta é que ele optou na guerra do Senado por ficar com o eleitor. Ele sabe que, enquanto tiver votos, será como Eduardo Suplicy: faz o que quer e é considerado o eterno senador do PT.

1 - Vitória tucana Com uma diferença de 1,3 milhão de votos, Gilberto Kassab (DEM) venceu no ano passado a petista Marta Suplicy na disputa, em segundo turno, pela prefeitura da capital paulista. Em sua primeira eleição majoritária, o democrata conquistou 60,72% dos votos válidos. A petista, ex-ministra do Turismo no governo Lula, aproveitou a alta popularidade do presidente para conquistar votos no estado. Além de Lula, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, também pediu votos aos eleitores paulistanos em propaganda eleitoral de Marta. Kassab, por sua vez, contou com o apoio do governador do estado, o tucano José Serra.

O número 5 Número de aliados da base de Lula para a disputa ao governo de São Paulo