Título: Planalto recebe bem documento do BC
Autor: Valente, Gabriela; Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 09/09/2011, Economia, p. 21

Avaliação é de que análise está em sintonia com o governo

BRASÍLIA. A ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), divulgada ontem, foi bem recebida no núcleo do governo. Para o Palácio do Planalto, a tendência é de declínio da inflação nos próximos meses. Auxiliares diretos da presidente Dilma Rousseff elogiaram o fato de a ata do Copom centrar sua argumentação no declínio do risco inflacionário. Ao GLOBO, um ministro explicou que a análise do BC está em sintonia com o pensamento do Palácio do Planalto.

A ata afirma que a redução da taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual é "consistente" com a convergência da inflação para a meta em 2012 e prevê queda na taxa em 12 meses do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) a partir do quarto trimestre deste ano.

Ontem, logo depois da divulgação da ata, a avaliação feita no Planalto é que a inflação de 7,23%, no acumulado de 12 meses, ainda é reflexo de um cenário anterior à crise mundial. E que, portanto, essa inflação vai diminuir com o quadro da desaceleração da economia não só no mundo, mas também no Brasil.

O que se diz no Planalto é que, neste momento, não se pode olhar para o retrovisor. Portanto, todas as críticas feitas pelo mercado financeiro em relação ao índice inflacionário já são análises que chegam atrasadas. E, segundo ministros, só no fim do ano será possível ter uma avaliação exata do acerto das ações da política monetária e que o corte dos juros, agora, terá efeito de amenizar a desaceleração da economia no ano que vem.

- Não houve descuido com a inflação. Pelo contrário. Isso ficou claro na ata do Copom. Toda a argumentação foi baseada na projeção futura da inflação. O que não podemos é olhar para trás. Setores do mercado queriam uma reação conservadora do Banco Central. Mas a decisão já incluiu todas as projeções inflacionárias. Portanto, na virada do ano, com a inflação em queda, todos vão reconhecer - elogiou um ministro.

Essa argumentação foi ressaltada no Planalto, porque responde às críticas do mercado de que houve uma pressão política do governo para o BC trocar a meta de inflação pela meta de crescimento. No Planalto, foi muito elogiado o artigo do economista e ex-ministro Delfim Netto, publicado no jornal "Valor Econômico" da última terça-feira. No texto, Delfim afirma que houve visão "arrogante" e "injusta" de alguns analistas.

"O mundo está literalmente vindo abaixo e sugere-se que o Copom deveria repetir o dramático erro de 2008: "Esperar para ver"! Vacilamos quando podíamos ter reduzido a taxa de juro real", escreveu Delfim, e acrescentou: "Todos os bancos centrais olham para o nível de atividade e sabem que a política monetária tem efeitos com defasagens variáveis. Devem olhar não apenas a taxa de inflação futura, mas também para o ritmo de crescimento futuro".