Título: Ajustes na pacificação
Autor: Costa, Ana Cláudia
Fonte: O Globo, 09/09/2011, Rio, p. 12

Militares montam quatro bases no Alemão, e estado decide antecipar UPPs

Depois do confronto entre militares e traficantes na noite de terça-feira, em que balas traçantes cruzaram o céu, trazendo de volta um clima de terror para os moradores da região, o Exército lançou uma nova estratégia na ocupação do Complexo do Alemão, apertando o cerco aos criminosos. A primeira medida da Força de Pacificação foi a implantação de quatro pontos fixos de policiamento dentro do conjunto de favelas - antes, a tropa tinha apenas uma base, do lado de fora do complexo, de onde saía para fazer rondas nas comunidades. Ao mesmo tempo, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, anunciou que antecipará para março o processo de implantação do programa das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) no Alemão, antes previsto para julho de 2012.

As bases avançadas do Exército no complexo ficarão nas estações do teleférico da Fazendinha e de Itararé, na quadra da Rua Canitar e na localidade da Caixa D"Água, na Favela Nova Brasília. De acordo com o relações-públicas da Força de Pacificação, major Marcus Vinícius Bolças, ao todo, 1.700 homens fazem patrulhamento no complexo. Outros 200 militares estão de prontidão e poderão ser empregados nas operações, se houver necessidade.

Oficial pede diálogo com a população

O major Marcus Vinícius informou que o patrulhamento nas comunidades era móvel, com soldados em carros e caminhões. Agora, a estratégia mudou, com a instalação de "pontos fortes" - bases fixas no interior do Complexo do Alemão. Revistas, segundo o oficial, podem acontecer a qualquer momento. Por enquanto, um carro blindado permanecerá de plantão na entrada da Rua Joaquim de Queiroz, acesso à Favela da Grota.

Se cresce o cerco ao tráfico por um lado, por outro, o chefe do Comando Militar do Leste (CML), general Adriano Pereira Júnior, que ontem se reuniu com a tropa, disse, ao deixar o encontro, que era hora de se sentar para conversar com os moradores e recuperar a confiança deles. O objetivo é retomar o canal de comunicação do Exército com a comunidade - houve conflitos entre integrantes da Força de Pacificação e moradores nas noites de domingo e segunda-feira.

O general voltou a ressaltar que o confronto entre traficantes e traficantes ocorrido na noite de terça-feira foi uma reação de bandidos insatisfeitos com a presença do Exército na região. Segundo ele, os criminosos pretendiam amedrontar a população.

- Eles (os traficantes) não entraram aqui no Alemão com essa força toda, e os disparos foram poucos. Isso me machucou porque há dez meses não se veem balas traçantes. Hoje (ontem) a vida aqui está voltando à normalidade. Foi uma crise provocada, porque os traficantes queriam dizer que ainda têm o domínio. A população pode ficar tranquila, porque eles (os bandidos) não ficaram e não vão fazer mal a ninguém daqui - disse o general Adriano, acrescentando que parabenizou os oficiais da Força de Pacificação porque, apesar do confronto, não houve feridos ou mortos por balas perdidas.

Aos poucos, a rotina no Alemão começa a voltar ao normal. O comércio abriu as portas e as escolas funcionaram ontem. Não houve problemas na circulação dos meios de transporte ou na oferta de serviços públicos. Apesar disso, moradores ainda se mostravam assustados e se negavam a fazer qualquer comentário sobre os últimos acontecimentos na região.

Para evitar novas investidas de traficantes, a PM ocupou ontem o alto dos morros do Adeus e da Baiana, em Ramos, junto ao Complexo do Alemão, de onde traficantes fizeram os disparos na terça-feira e que não estão na área sob responsabilidade pela Força de Pacificação. De acordo com o comando da PM, o reforço no patrulhamento nessas comunidades acontecerá principalmente das 19h às 7h. Cerca de 50 policiais ficarão divididos nos dois morros, enquanto equipes de outras unidades ajudarão o Batalhão de Campanha a vigiar a área em volta dessas favelas.

A ocupação do Complexo do Alemão começou em novembro do ano passado. Na ocasião, com a chegada das tropas, houve uma fuga em massa de bandidos.