Título: Nações Unidas estudam retirada de tropas
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Fonte: O Globo, 06/09/2011, O Mundo, p. 26

Amorim defende plano de saída do Haiti; 1.600 homens devem voltar para casa em novembro

BUENOS AIRES* e SÃO PAULO. O general brasileiro Luiz Eduardo Ramos Pereira, comandante da Força da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), afirmou ontem que a ONU já estuda uma estratégia de saída dos cerca de nove mil militares de 19 países que hoje garantem a paz no Haiti. Num primeiro momento, provavelmente a partir de novembro, 1.600 homens retornarão para casa, dos quais 280 brasileiros. Em Buenos Aires, o novo ministro da Defesa brasileiro, Celso Amorim, disse que ainda não existe um cronograma para a retirada total da Minustah e deixou claro que nada será feito de um dia para o outro. Mas, também, enfatizou a necessidade de começar a discutir seriamente o assunto.

Apesar de desconhecer detalhes sobre o suposto abuso cometido por militares uruguaios no Haiti, Amorim disse que "esses episódios são lamentáveis, mas, infelizmente, ocorrem":

- Agora, não podemos contaminar toda a missão de paz por um episódio específico.

Em meio ao escândalo, o futuro da Minustah foi um dos assuntos tratados por Amorim com seu colega de pasta argentino, Arturo Puricelli, e, também, com a presidente Cristina Kirchner.

Brasileiros devem ficar mais tempo, por estarem na capital

O governo brasileiro, disse o ministro, considera que "a médio e longo prazo não é bom nem para o Haiti nem para quem está lá que essa presença se perpetue". O primeiro passo será, segundo Amorim, a redução das tropas estrangeiras que estão no país desde 2004, reforçadas, em 2010, após o terremoto.

- É preciso começar a pensar (na retirada), porque senão cria-se uma sensação de falso conforto.

Segundo o general Ramos, no entanto, as tropas brasileiras devem ainda ficar por algum tempo no país.

- Como o Brasil tem suas forças militares em Porto Príncipe, onde há níveis menores de segurança, manteremos uma presença militar ainda elevada num primeiro momento. Ainda assim, estimo que algo entre 200 e 280 militares devem voltar para casa a partir de novembro - disse o general, por telefone, de Porto Príncipe para O GLOBO. - A retirada acontecerá aos poucos, seguindo as recomendações do relatório em análise na ONU.

Em julho, afirmou o general Ramos, um grupo de especialistas produziu um relatório, enviado no mês passado à aprovação do secretário-geral Ban Ki-moon, traçando a estratégia de saída, que inclui a concentração militar em áreas de menos segurança no Haiti e a aceleração do projeto de treinamento da polícia haitiana. Em outubro, a discussão chegará ao Conselho de Segurança da ONU, que deverá aprovar, ou não, a renovação do mandato da Minustah por mais um ano. O Brasil considera que o mandato pode ser renovado, mas deve prever uma redução das tropas no país.

Na próxima quinta-feira, o assunto será discutido numa reunião de ministros e chanceleres da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), em Montevidéu. Antes disso, Amorim conversará com representantes do Paraguai, em visita hoje a Assunção. A Argentina, segundo o ministro, está em plena sintonia com o Brasil. Outros países, como o Chile, não estariam convencidos. O governo de Sebastián Piñera estaria mais alinhado com a posição dos EUA, que ainda não pensam em retirada.