Título: Desemprego menor surpreende mercado
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Fonte: Correio Braziliense, 21/08/2009, Economia, p. 13

Embora a queda da taxa de ocupação em julho tenha sido de apenas 0,1 ponto percentual em relação a junho, o resultado indica tendência de maior oferta de vagas até o fim do ano

Marcelo Brito, depois de quatro meses desempregado, sentiu-se aliviado ao conseguir uma vaga de garçom

Por quatro meses, Marcelo Reis Silva Brito, 29 anos, viveu o drama do desemprego. Ele tinha sido a dispensado da função de vendedor de uma loja de móveis para escritório. A crise financeira global levou a clientela para o mercado de móveis usados. Casado pela segunda vez e com uma pensão alimentícia para pagar ao filho de 1 ano, o comerciário se viu em uma situação desesperadora. O alívio veio em julho, quando, finalmente, conseguiu um emprego de garçom em uma rede de panificadoras de Brasília. Embora não fosse o seu ramo de atividade, a situação não permitia fazer escolhas. Era pegar ou largar. Prevaleceu a primeira opção. ¿É muito difícil ser pai de família com um salário mínimo. Ficar desempregado é angustiante e, como o mercado é muito exigente, os mais qualificados são selecionados¿, comentou.

Marcelo Brito fazia parte do universo de desempregados que, no mês passado, mudou de condição. Dados da Pesquisa Mensal de Emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelaram que a taxa de desocupação ficou estável em julho. O contingente de pessoas com carteira assinada (9,6 milhões) subiu 1,5% em comparação a junho e 4,2% em relação a julho do ano passado. O número de empregados nas seis principais regiões metropolitanas (São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife e Salvador) também cresceu 0,9% frente a junho, com 185 mil empregos criados.

O anúncio surpreendeu o mercado e o governo. O economista-chefe da Opus Gestão de Recursos, José Márcio Camargo, previa uma taxa de desemprego de, no mínimo, 10%. O Banco Central estimava algo em torno de 8,9%. Mas a pesquisa do IBGE registou uma taxa de desocupação de 8%, 0,1 ponto percentual inferior à de junho. ¿A maior parte das pessoas, inclusive eu, esperava uma taxa de desemprego maior em julho¿, reconheceu Camargo. ¿Mas o número de desempregados caiu, a renda e a massa salarial aumentaram. Pela primeira vez, a pesquisa mensal do IBGE dá sinais de que o mercado de trabalho se aqueceu.¿ Segundo ele, há um claro indicativo de que o desemprego deverá cair no segundo semestre, mesmo que seja em um ritmo mais lento do que foi em 2008.

Setores

Os setores que mais colaboraram para esse resultado positivo em julho foram o comércio, com 71 mil empregos, serviços (42 mil), construção civil (20 mil) e indústria (9 mil). Houve também incremento de 0,5% na renda média do brasileiro. A população ocupada cresceu 0,9% frente a junho e 1,1% com relação a julho do ano passado.

Para a economista técnica da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, Adriana Beringuy, esses indicadores representam uma perspectiva de melhora no mercado de trabalho nos próximos meses deste ano. ¿A pesquisa mostrou que houve um aumento de empregos com carteira assinada. Isso significa que o trabalho formal ganhou força em julho. E se existe mais trabalhador formal, há maior possibilidade de se conseguir crédito, o que acarreta elevação do consumo e pode estimular um aumento da produção industrial.¿

O fraco desempenho do emprego industrial, entretanto, ainda é preocupante. ¿O problema é que a indústria não está gerando empregos. O próximo passo para o desemprego cair mais será a retomada da indústria¿, avaliou Camargo. A indústria extrativa, de transformação e distribuição de eletricidade, gás e água, por exemplo, registrou queda de 4,7% no emprego, ante julho de 2008.

No entanto, há uma expectativa positiva em relação à oferta de empregos no país. ¿Vai depender de como a economia se comportar, porque o mercado de trabalho reflete o que ocorre no setor de bens de serviço. Se a produção aumentar, haverá possibilidade de contratação de mais pessoas no segundo semestre¿, ressalvou Adriana.

Marcelo Brito compartilha da mesma alegria de outras pessoas que, como ele, conseguiram uma ocupação em julho. ¿O pior da crise é o medo de ficar desempregado. Quando ela chega, o impacto é sobre o comércio. Ainda bem que outros colegas também retomaram o emprego¿, contou entusiasmado.

Pela primeira vez, a pesquisa mensal do IBGE dá sinais de que o mercado de trabalho se aqueceu¿

José Márcio Camargo, economista-chefe da Opus Gestão de Recursos