Título: Não falta trabalho no combate à corrupção
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Fonte: O Globo, 13/09/2011, Opinião, p. 6

Na entrevista levada ao ar no último "Fantástico", da Globo, a presidente Dilma Rousseff procurou limitar a "faxina" ética no tempo - algo que começa e acaba -, em contraposição à luta contra a corrupção, que tem de ser constante, afirmou. Na verdade, "faxina", ou que nome tenham ações de repressão ao roubo do dinheiro do contribuinte, precisa ser prática rotineira em todo governo. Esta questão semântica foi criada no PT por temor de que a palavra faxina remeta à ideia de limpeza de uma sujeira deixada por algo ou alguém (o lulopetismo). Melhor, então, engavetar o termo.

Discussões estéreis à parte, se é ou não faxina, não falta trabalho no campo do combate a malfeitos. Um indicador do tamanho do problema é o resultado da análise realizada pela Controladoria Geral da União (CGU) em 17 licitações e contratos feitos no longo período em que o PR, sob as bênçãos de Lula, converteu o Ministério dos Transportes, seu Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e a Valec em fonte de financiamento de caixa dois político-eleitoral e instrumento de atração de parlamentares para a legenda, entre outras ilegalidades.

Os projetos auditados representam um investimento de R$5,1 bilhões, e neles foi detectada uma perda de R$682 milhões para o contribuinte, causada por superfaturamentos, projetos deficientes e até mesmo serviços pagos mas não executados. Foram, então, surrupiados do Tesouro 13,4% do valor total dos investimentos. Se esta for a "taxa de corrupção" em vigor no país, muitos bilhões se esvaem a partir de conchavos em Brasília.

A sucessão de casos descobertos no governo Dilma, mas que acontecem há muito tempo, reforçou o uso de ONGs como um dos golpes mais usuais no desvio de dinheiro do Erário.

A Operação Voucher, da Polícia Federal, com suas mais de 30 prisões, inclusive do secretário-executivo do Ministério do Turismo, Frederico Silva da Costa - o segundo na hierarquia da Pasta, logo abaixo do ministro Pedro Novais, do PMDB maranhense -, chegou a ser didática ao demonstrar como ONGs podem ser usadas, em conluio com parlamentares e servidores públicos, para drenar dinheiro público. A transferência de dinheiro de emenda da deputada Fátima Pelaes (PMDB-AP) para uma ONG fajuta (Ibrasi), sob a meritória justificativa de treinar mão de obra para o setor de turismo no Amapá, parece ser apenas um dos estelionatos praticados por meio de supostas organizações não governamentais. O governo poderia resgatar informações colhidas pela CPI instalada para investigar o universo das ONGs, sintomaticamente sabotada pelo lulopetismo, para colocar ordem neste mercado "ongueiro".

Também na entrevista de domingo, Dilma se disse preocupada com a "demonização da política", uma repetição do que afirmara o presidente do PT, Rui Falcão, no congresso nacional da legenda. Ora, a política exercida pela via do fisiologismo, como é praticada de maneira mais sistemática há oito anos, sempre teve forte cheiro de enxofre. Exercida sem pudor em nome da "governabilidade", ela fez com que lideranças do PT vendessem a alma ao diabo. Portanto, demonizada ela já está. A questão é exorcizá-la, para fortalecer a democracia representativa. Política não pode mesmo ser sinônimo de roubalheira. É desimportante se o exorcismo será por meio de "faxinas" ou não.