Título: No Turismo, a mais alta taxa de corrupção
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 15/09/2011, O País, p. 12

Apesar do orçamento modesto, Ministério acumulou desvios que chegaram a 60% da verba recebida do governo

BRASÍLIA. Mesmo com um dos orçamentos mais modestos da Esplanada, o Ministério do Turismo, sob o comando de Pedro Novais, tornou-se uma das áreas do governo federal com o maior número de denúncias de corrupção e desvios de dinheiro público. As acusações, que começaram a ser divulgadas pelo GLOBO em 21 de julho, transformaram-se numa longa série sobre fraudes em contratos sem licitação entre o ministério e organizações não governamentais (ONGs). Tudo sob o olhar impassível do agora ex-ministro.

Numa das reportagens, publicada em 28 de agosto, um empresário, um ex-funcionário de uma ONG e um ex-servidor do ministério revelaram ao jornal que os desvios no setor chegavam a 60% das verbas repassadas pelo governo federal. Essa é a taxa de corrupção mais alta de Brasília. Em meio à série de reportagens, a Polícia Federal prendeu 36 pessoas acusadas de fraude no ministério.

Entre os presos estavam o ex-secretário-executivo Frederico Silva Costa, até então o segundo homem na hierarquia do ministério. Outros oito funcionários foram fisgados na Operação Voucher. Antes e depois da operação, O GLOBO revelou diversos casos suspeitos. O primeiro foi relativo aos contratos de mais de R$50 milhões entre o ministério e o Instituto Brasileiro de Hospedagem, dirigido por César Gonçalves, ex-presidente da Brasiliatur. Gonçalves conquistou os contratos depois de deixar a Brasiliatur em meio a denúncias de malversação de recursos públicos.

Em outro caso, a ONG Cia do Turismo apresentou ao ministério atestados falsos, assinados por quatro parlamentares de Santa Catarina, para obter contratos sobre promoção do turismo em alguns estados. O Instituto para a Preservação do Meio Ambiente e Promoção do Desenvolvimento Sustentável (Iatec), chefiado pelo ex-secretário de Agricultura de Sergipe Etélio de Carvalho Prado, abocanhou um contrato de R$8 milhões para promover cursos à distância para profissionais no Nordeste, um projeto sem consistência técnica.

Numa das mais recentes reportagens, o jornal mostrou que o Instituto Nacional de Desenvolvimento Social e Cultural (Indesc), de Jundiaí (SP), ganhou um contrato de R$13,8 milhões para qualificar profissionais do turismo nas sedes da Copa de 2014. A ONG foi criada em 2005 pelo sindicalista Luiz Gonzaga da Silva e não tem nenhuma experiência em turismo. Depois de receber R$1,9 milhão do ministério, a ONG abriu um escritório na avenida Paulista, um dos endereços mais cobiçados de São Paulo.

O jornal revelou ainda que Ricardo Moesch, um dos diretores do ministério, teve viagem paga pelo Instituto Marca Brasil, uma das ONGs que mais recebem dinheiro do ministério.