Título: Aumentar IPI de carros importados não garante mais emprego no Brasil
Autor: Batista, Henrique Gomes; Miragaya, Fernando
Fonte: O Globo, 20/09/2011, Economia, p. 30

Especialistas alegam que demanda será suprida por México e Argentina

Henrique Gomes Batista, Fernando Miragaya e Wagner Gomes

RIO e SÃO PAULO. Além de prejudicar consumidores, a alta do IPI para carros importados pode ser inócua para a geração de empregos no setor no Brasil, segundo especialistas. Isso porque uma eventual queda nas vendas de modelos chineses e sul-coreanos tende a ser suprida com veículos de México e Argentina, países que não sofrerão com o aumento do imposto.

- O Brasil exporta carros básicos e importa automóveis mais sofisticados, que não são feitos no Brasil. Assim, este mercado, hoje suprido pelos coreanos, deve ser ocupado pelos mexicanos e pelos argentinos, ou seja, a medida não deve gerar empregos em montadoras brasileiras - disse Luiz Carlos Mello, diretor do Centro de Estudos Automotivos (CEA).

Paulo Roberto Garbossa, consultor da ADK Automotive, diz que é muito difícil mensurar o impacto da medida nos empregos. Ele lembra que os acordos automotivos estabelecem que só se pode importar um veículo para cada um exportado. Além disso, peças e equipamentos também entram na conta:

- Fica difícil dizer que haverá aumento de empregos. Deve haver a manutenção das vagas.

Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, o Brasil tem déficit comercial de US$1,8 bilhão com os dois principais parceiros comerciais em automóveis. Da Argentina, importou este ano, até agosto, US$3,691 bilhões e exportou US$2,574 bilhões, com um déficit de US$1,117 bilhão. Do México, foram comprados US$1,035 bilhão e exportados US$334 milhões, com um déficit de US$701 milhões. Esses dados, contudo, levam em conta apenas carros prontos.

Até ontem, as principais importadoras não haviam elevado os preços. Na Kia, por exemplo, alguma definição deve ocorrer na próxima semana. A empresa sul-coreana explicou que tem estoque de 10 mil carros, o equivalente a um mês de vendas.

A Audi diz contar com estoques de carros com IPI antigo para dois meses de venda.

Luis Carlos Mello, do CEA, diz que sul-coreanos e chineses têm margem para absorver grande parte do impacto do aumento causado pelo novo IPI.

Já os metalúrgicos de São José dos Campos, no interior de São Paulo, iniciaram ontem greves de 24 horas para reivindicar reajuste salarial. Cerca de 350 funcionários da Schrader, empresa de autopeças, e 300 da Sadesen, de eletroeletrônicos, cruzaram os braços para exigir 17,45% de aumento, o dobro do que as empresas ofereceram (9,5%). Na Panasonic, fabricante de eletroeletrônicos, 400 trabalhadores fizeram ontem uma paralisação de um hora e ameaçam entrar em greve se não houver acordo em 48 horas. Segundo o sindicato local, cerca de 423 mil trabalhadores, com data-base em setembro, estão em campanha salarial na região.

No ABC, a possível paralisação será decidida hoje em assembleia à tarde, em Diadema. São mais de 70 mil metalúrgicos em campanha salarial nas empresas de máquinas, autopeças, forjaria, parafusos e metais ferrosos. Até agora, as propostas patronais foram rejeitadas. O sindicato quer acordo igual ao fechado com as montadoras: aumento de 10%, abono e avanços nas cláusulas sociais.